quinta-feira

UM MOMENTO ÍNTIMO



Vida privada e vida íntima. São coisas distintas.
Da nossa vida íntima, fazem parte apenas alguns segredos que não revelamos à maior parte das pessoas. Determinadas partes do corpo, aspectos sexuais e alguns hábitos muito pessoais.
A vida privada já abrange muito mais aspectos. É o modo como gozamos as férias, com que amigos nos damos, se fazemos a barba com lâmina ou máquina de barbear, as doenças de que padecemos, se nos levantamos tarde ou cedo ou os hábitos alimentares, por exemplo.
A generalidade das pessoas tem direito à reserva da vida íntima e da vida privada. Ninguém deve interferir ou revelar aspectos que digam respeito às mesmas.
No entanto, quando se trate de uma figura pública, os órgãos de comunicação social podem revelar notícias sobre a vida privada de tal pessoa, desde que no exercício do direito de informar.
Assim, pode dizer-se que um político almoçou com determinadas pessoas. Ou afirmar que um treinador de futebol está a passar férias em certo hotel.
Nunca se deve entrar na vida íntima, a não ser que se esteja a relatar a prática de um crime.
Mesmo relativamente à vida privada, há alguns aspectos mais subtis. Tem que existir um interesse jornalístico.
Há dez anos atrás, os jornais anunciaram que o primeiro-ministro tinha mandado fazer obras na casa de banho da sua casa particular. Ele não gostou.
A defesa dos jornalistas foi a seguinte.
A legislatura estava a chegar ao fim. Há dez anos que o chefe do governo exercia funções. As sondagens indicavam que o seu partido estava a decrescer em intenções de voto. O primeiro ministro dissera que a sua recandidatura era assunto tabu.
A renovação da casa de banho podia ser reveladora. Poderia significar uma intenção de deixar o Palácio de São Bento e regressar a casa.



VIÚVO
O primeiro ministro que o sucedeu sofreu um drama enquanto estava em funções. Foi assistindo à evolução da doença que afectava a sua mulher. Ela realizava tratamentos em Inglaterra e viria a falecer.
O assunto era muito comentado, mas os órgãos de comunicação social preferiram omitir a questão. Tratava-se de uma matéria muito delicada. O líder governamental procurava manter alguma confidencialidade e nem discutia o assunto com a maior parte dos seus colegas.
Até que um semanário publicou, na primeira página, a notícia. Mais nenhum órgão de comunicação social se referiu ao tema.
Do ponto de vista legal, o jornal agiu no exercício de um direito. Pode parecer estranho. Mas a verdade é que os familiares de figuras públicas têm de suportar também uma certa invasão da sua vida privada.
É o preço da fama.
A questão foi recentemente debatida até à exaustão, num programa televisivo.
Dois aspectos se podem destacar.
De um modo geral, existe simpatia pelos famosos e a vida fica relativamente facilitada.
Mas há sempre quem tenha histórias para contar como a fama o prejudicou num ou noutro caso.
A inveja contribui para que os mais frustrados sintam um especial prazer em dificultar as coisas a pessoas de quem têm ciúmes.
Certa vez, contei como a grande vedeta Henrique Mendes foi recebido numa esquadra policial da capital:
- O que é que você quer?
“Boa educação”, pensou ele.
Ana Bola estava de partida para o Brasil e verificou que o seu passaporte se encontrava caducado. Foi ao Governo Civil pedir a emissão urgente de um novo, como qualquer um de nós tem direito. A funcionária, uma tal Zita, fez tudo para atrasar as coisas.
Cavaco Silva, o tal primeiro ministro, certa vez foi visitar um hospital. O vigilante, na entrada, aproximou-se dele e pediu-lhe para se identificar.