quinta-feira

VER-SE LIVRE DO HOMEM




“Até sou capaz de lhe pagar um almoço”. Pelos vistos, o homem tinha alguma gratidão.
O caso foi o seguinte. Ele era casado, mas não se dava bem com a mulher. Esta planeou o seu homicídio.
Contratou um jovem para concretizar o assassinato. Ele disse que aceitaria e combinou o preço. Mas, na realidade, foi à polícia denunciar as intenções da criminosa. Agora ela reside no Estabelecimento Prisional de Tires.
Uma estação de televisão colocou os dois homens lado a lado: a potencial vítima e o que foi contratado para o matar.
O jornalista perguntou ao homem mais velho o que sentia agora por aquele jovem que até então ele desconhecia. Foi nessa altura que o indivíduo se saiu com aquela do almoço. Estava muito emocionado...

Um caso semelhante passou-se com um colega meu.
Um político não gostava do juiz da comarca. Contratou dois jovens para lhe darem uma valente sova, exigindo que fosse de tal ordem que ele tivesse de ficar internado no hospital.
Os contratados agiram com reserva mental, como dizem os juristas. Reserva mental significa pensar uma coisa e dizer outra.
Portanto, eles afirmaram que aceitavam o trabalho, mas na realidade não tencionavam executá-lo. Disseram que os pormenores teriam de ser acertados posteriormente.
Muniram-se de um gravador e reuniram-se com o motorista do homem que odiava o magistrado. A conversa ficou toda registada.
O mandante foi imediatamente colocado em regime de prisão preventiva.
Mas ainda continuava a alimentar aqueles sentimentos de vingança. Agora dirigia-os aos dois contratados a quem ele pretendia dar trabalho e que acabaram por denunciar o caso à polícia.
O seu motorista apresentou queixa contra os jovens, dizendo que eles tinham gravado uma conversa particular sem autorização.
O descaramento foi levado ao limite.
É claro que o processo foi arquivado. Os jovens estavam a agir em defesa de um valor muito mais importante: evitar a prática de um crime. É que se não fossem eles a denunciar o caso, outros iriam espancar o juiz.
Neste mercado, não há só procura de trabalhadores. Também há os profissionais que oferecem os seus serviços. Às vezes, até gratuitamente. Um amigo meu ajudou um indivíduo na sua carreira artística. Como paga, o artista colocou-se inteiramente ao dispor:
- Conte comigo para o que for preciso. Nomeadamente, se for necessário desactivar alguém.
É claro que o meu amigo nunca teve o desejo de “desactivar” quem quer que fosse.
Mas o artista, esse, apesar do seu sucesso, não desistiu de enveredar pela carreira do crime. Está a cumprir pena por tráfico de droga.
Muito original foi o caso de um mecânico que andava a cobiçar umas potentes motas apreendidas pela polícia. Encontravam-se no parque de estacionamento da esquadra.
Ele resolveu então propor um negócio a dois rapazes. Eles iam lá de noite com uma carrinha e tudo o que tinham a fazer era carregar uma Yamaha. É claro que foram capturados em flagrante delito. Era ousadia a mais conseguir fazer um assalto junto à esquadra. Os ladrões disseram que lhes tinha feito a encomenda.
Mandar praticar o crime tem a vantagem de se dispor de um álibi e de não deixar vestígios pessoais. No entanto, tem o inconveniente de envolver mais pessoas que podem borregar a qualquer momento.