quinta-feira

O PAI NATAL FOI PRESO


Na época natalícia, tudo se agiganta.
Os horários das lojas alargam-se. Os estabelecimentos têm muito mais clientes. Nalguns casos, até dispõem de uma maior número de empregados.
O trânsito torna-se mais congestionado. Nalguns dias, até são lançadas operações especiais pelas autoridades.
O salário é a dobrar. Tudo graças ao subsídio de Natal, também conhecido como 13º mês.
Sobe o preço de alguns produtos alimentares, devido ao aumento da sua procura.
Na vida, tudo assume carácter superlativo, nesta quadra. É como se víssemos as diversas realidades através de uma lupa gigante.
Curiosamente, também a criminalidade dispara.
As reuniões familiares possibilitam a confraternização. Mas também podem conduzir a conflitos. Agressões e até assassínios sucedem-se.
A necessidade de dinheiro é mais premente. E os furtos são vistos como solução por alguns.
Já uma vez relatei o que se passou com Leandro Andrade, nos Estados Unidos da América. Certa vez, ele decidiu apoderar-se de uns filmes em vídeo para oferecer aos sobrinhos, no Natal. A ideia saiu-lhe cara: foi condenado a cinquenta anos de prisão.
Mas nem tudo é assim tão sério.

Há episódios que chegam a tribunal e que acabam por ser algo cómicos.
Um homem foi fazer umas compras de Natal a um bazar. Solicitou que os vários produtos fossem embrulhados.
A balconista colocou aquelas compras de lado. Afastou-se um pouco, apenas para aceitar o pagamento por parte de um outro cliente.
Ora impacientou-se o indivíduo que aguardava pelos lindos embrulhos dos presentes carinhosamente escolhidos.
Ele não esteve com meias medidas. Disse à empregada da loja que ele próprio procederia aos embrulhos. E assim o fez. Pegou no papel de fantasia e na fita-cola. Lançou mãos à obra.
A balconista sentiu-se algo incomodada. Vendo o que ele estava a fazer, replicou:
- Bom, também Você não tem jeito nenhum para fazer embrulhos de Natal.
O homem não se ficou e respondeu à afronta:
- Tenho jeito, sim senhor. Até tinha jeito para lhe fazer um filho a si.
Aquilo era demais. A rapariga ofendeu-se e gerou-se uma acesa discussão. Acabou em vias de facto.
Em tribunal, o arguido era ele. A jovem assumia o papel de queixosa.
Ele era acusado de “ter agarrado num objecto rijo, com formato de Pai Natal e atingido a ofendida na cabeça”. Para cúmulo, o apelido da vítima era precisamente Cabeça.
Era compreensível aquela precisão na forma como o libelo acusatório tinha sido redigido.
Imagine-se que se tratava de um Pai Natal insuflável, daqueles molinhos. Já não teria significado a dor na… cabeça (ou Cabeça?).
A arma da agressão encontrava-se apreendida. Estava guardada mesmo junto às celas do tribunal, no meio de pés de cabra, plasmas e LCDs roubados. Ainda que fora do cárcere, aquele Pai Natal não deixava de partilhar a cave do edifício, com os mais empedernidos criminosos. Que triste destino para o São Nicolau…


Um outro caso passou-se com o tradicional bacalhau.
Dois amigos estavam carentes de dinheiro para adquirir estupefacientes.
Não era certamente muito difícil apoderarem-se de algo muito desejado particularmente em Dezembro. Uns pacotes de bacalhau expostos no Minipreço seriam rapidamente retirados por um dos gatunos, enquanto o outro permanecia à porta, em missão de vigilância.
As embalagens do peixe seco seriam acondicionadas num saco de plástico que um deles transportava.
A coisa não decorreu bem.
Uma empregada detectou a o plano.
Depois de um deles passar pela caixa, tentando ocultar o bacalhau, a operadora da loja agarrou nele. Nele ou nelas, nas postas. Mesmo assim, o ladrão não desistiu e puxou com toda a sua força. Escapou com o produto do assalto.
Juntou-se ao amigo.
No entanto, os dois foram apanhados pouco depois. A polícia tinha sido alertada e não houve grande dificuldade em capturar os dois.
Ora, de uma forma geral, nestes casos, o dano é reparado. Significa isto que os bens furtados são devolvidos ao supermercado.
Não foi o que sucedeu desta vez.
O tal saco de plástico continha também umas seringas usadas. Lá foi ordenada a destruição do bacalhau.
Conduzidos ao juiz, os meliantes foram interrogados.
Com não podia deixar de ser, o que esteve de vigia negou tudo.
Realmente, ele era amigo do ladrão. Mas não tinha nada que ver com o assalto.
Ele estava pacatamente a passear na rua, quando se cruzou com o seu companheiro, que trazia consigo um saco contendo umas postas. Decidiram, então, ir fazer umas sopinhas de bacalhau. Mas ele nem sabia como tinha sido obtido o peixe.