quarta-feira

À PORRADA



Existem seres vivos no planeta Terra.
Não há vida em Marte.
Estas duas frases merecem análises diferentes. A primeira é afirmativa. A segunda é proferida na negativa.
Nós temos a certeza de que há vida na Terra. Cruzamo-nos com a mais diversa fauna e flora.
Agora, já é muito ousado garantir que não existe uma realidade. Por mim, eu ponho-me de fora. Não faço apostas sobre se há ou não há vida em Marte.
Esta questão coloca-se frequentemente nos tribunais.
É perfeitamente admissível que alguém afirme:
- Ele apontou a pistola ao condutor.
Já deve ser encarada com algum cepticismo a declaração:
- Este meu amigo nunca roubou nada a ninguém.
Como é que a testemunha sabe? Andou sempre ao lado dele?
Em termos legais, esta matéria é denominada como invocação de factos negativos.
É arrojado comunicar: “o Manuel não se encontrava na estação de serviço”.
Aquilo é um espaço tão grande. Como é que se pode afiançar isso?
Porém, já é aceitável dizer: “àquela hora, o Manuel estava no hotel, que fica a 40 km da estação de serviço”.
São objecto de especial atenção as alegações de factos negativos, quando os mesmos respeitam a circunstâncias pessoais.
Uma coisa é o arguido afirmar:
- Eu não escrevi essa carta.
Outra é uma testemunha dizer:
- O arguido não escreveu a carta.
Deste modo, devemos concluir o seguinte. Os factos negativos interessam quando são invocados pelo próprio. Os terceiros devem, acima de tudo, declarar o que viram e ouviram. Em princípio, não têm capacidade de se pronunciar sobre factos negativos.
Por isso, tenho alguma dificuldade em compreender o método de actuação nos lamentáveis acontecimentos durante o jogo de futebol que opôs o União de Almeirim ao Alcanenense.
Os futebolistas das duas equipas envolveram-se numa autêntica batalha campal. 26 deles foram sancionados com suspensão, o que significa que até alguns que se encontravam no banco foram tidos como responsáveis.
Segundo um dos árbitros, estes limitaram-se a registar quem não participou na contenda. No final, chegaram à conclusão de que 26 jogadores tinham andado à pancada.
Na minha visão, deve agir-se ao contrário.
Quem pode garantir que certo jogador não deu uma pisadela ou um encontrão?
O que se deve fazer é ir tomando nota quanto aos que agrediram alguém. Mesmo que, com esse trabalho, escape alguém.