quinta-feira

PLANO B NA PRAIA DA FIGUEIRINHA




Imagine-se uma mulher que decide, premeditadamente, matar o marido, na presença da filha de ambos.
O caso é real e tudo foi cuidadosamente planeado pela assassina, conjuntamente com um outro homem, com quem ela partilhava a vida.
Aqui há oito anos atrás, esta mulher encontrava-se já separada do marido, que era ferroviário, ganhando um ordenado razoável. Além disso, ele tinha um seguro de vida, sendo a mulher a única beneficiária.
Já anteriormente, ela tinha tentado contratar um indivíduo para matar o marido. Propôs-lhe que o sujeito furtasse um veículo qualquer. Ela trataria de drogar o marido, deixando-o inconsciente. Metê-lo-iam no assento do condutor desse tal automóvel e o mesmo seria lançado por uma ribanceira abaixo.
No entanto, o serviço não foi aceite pelo tal homem, que morava em Peniche.
Então, ela resolveu pedir a colaboração do seu namorado, com quem vivia, juntamente com a filha.
O momento do homicídio foi escolhido por forma a coincidir com uma data em que o pai da criança já tivesse recebido o ordenado da CP. Por isso, optaram pelo dia 28.




McDONALD´S

A vítima tinha estado com a filha. A pedido da mãe, foi deixá-la no McDonald´s de Aires, em Palmela, onde se encontrariam.
A essa hora, já a criminosa tinha ido à farmácia. Comprou uma embalagem de Zolpidem, comercializado sob a marca Cymerion. Também existe como Stilnox.
O objectivo era sedar o marido. Quando este ficasse inconsciente, metê-lo-ia no carro dele próprio e lançaria o veículo na serra da Arrábida, simulando um acidente. Para tal, contaria com a ajuda do namorado.
A mulher esmagou os comprimidos, fazendo-os em pó. Pegou num frasquinho de amostra de perfume, cilíndrico e em vidro. No interior, colocou o pó.
Uma vez chegada ao McDonald´s, ela estacionou a sua viatura no parque respectivo. Cumprimentou a filha e o pai desta, sugerindo que jantassem todos ali.
Com os respectivos tabuleiros, sentaram-se e iniciaram a refeição. Mas logo a mulher disse que queria batatas fritas e pediu ao marido que as fosse buscar.
Aproveitando-se da ausência dele, a senhora deitou o conteúdo do frasco na Coca-Cola da vítima.



PASSEAR

Tudo terminado, ela propôs que dessem um passeio de carro.
Assim fizeram, seguindo os três na viatura da própria vítima. Porém, quem seguia ao volante era a criminosa. A menina tinha apenas dois anos de idade.
A mulher encaminhou o veículo para a praia da Figueirinha, onde saíram para caminhar a pé.
O diabo é que os comprimidos pareciam não estar a fazer efeito. O homem estava perfeitamente desperto.
Então, ela afastou-se, pegando no telemóvel. Disse que iria ligar à mãe. Na realidade, estabeleceu contacto com o namorado, comparsa no crime.
Contou-lhe o que se estava a passar, determinando que teriam de passar ao plano B.
Esse namorado já se encontrava ali pertinho da praia.
Como estava em causa passar ao plano alternativo, ele muniu-se de uma grossa corda, em cujas pontas existiam umas pegas de madeira, feitas com o cabo de um martelo. Era um instrumento arrepiante, que se assemelhava a uma corda de saltar, um pouco mais curta e com uma finalidade tétrica.
Após terminar a conversa telefónica, ela disse à criança e ao pai desta que estava na hora de partirem. Entraram todos no veículo, ficando ela novamente ao volante, o marido a seu lado e a criança no banco de trás.
Foi nesse momento que se deu o horrendo assassinato.
O namorado da mulher abriu bruscamente a porta de trás e sentou-se ao lado da menina. Pegou na corda e passou-a em redor do pescoço do homem que se encontrava no assento dianteiro. Puxou-a com força, enquanto ele se debatia, procurando evitar a morte. Entretanto, a mulher abriu a sua mala de mão e sacou de uma faca. Espetou-a cinco vezes no peito da vítima.



VALE DA RASCA

Consumado o homicídio, os dois criminosos separaram-se. O homem seguiu no carro da vítima, com o respectivo corpo. A mulher foi na viatura do seu comparsa, juntamente com a pobre filha, que acabara de assistir à brutal morte de seu pai.
Os dois veículos encaminharam-se para o Vale da Rasca, em Setúbal, onde ambos os condutores pararam. Então, os dois criminosos revistaram o cadáver, retirando-lhe o cartão de multibanco, cujo código a mulher conhecia.
De seguida, regressaram às respectivas viaturas. O homem ficou no carro da vítima. Ela conduzia o veículo do namorado. Seguiram para Espanha. Chegados a Badajoz, ficou lá estacionado o carro do morto, com o corpo lá dentro.
Os delinquentes regressaram na viatura pertencente ao assassino, com destino ao Pinhal Novo, onde moravam. Aí procederam ao levantamento de dinheiro, no multibanco, recorrendo ao cartão da vítima. A mulher tencionava, depois, receber o dinheiro do seguro de vida.
Felizmente, o crime não compensou e ambos foram presos.
O desfecho consistiu em algo que não é assim tão raro. A menina ficou com um progenitor no cemitério e o outro na cadeia.