sexta-feira

PARAÍSO


Um prestigiado causídico de Estarreja perdeu a vida. Foi barbaramente assassinado a tiro, por um cavalheiro que não compreende o papel de um advogado. A este, compete-lhe defender e pugnar pelos direitos do seu cliente. Não é um inimigo pessoal da parte contrária. Neste caso concreto, o profissional representava a mulher do assassino, num caso de divórcio.
Após esta selvática desgraça, houve logo quem defendesse uma solução mágica. Os advogados deveriam passar a ter o mesmo direito dos juízes: utilizar arma de fogo de defesa, sem necessidade de licença, bastando registá-la ou manifestá-la.
A ideia não é descabida, numa perspectiva de equiparação.
Mas há que ter presentes dois elementos.
São pouquíssimos os juízes que andam armados.
Por outro lado, o número de advogados é elevado. A concretização de tal projecto poderia conduzir a uma proliferação de pistolas e revólveres, que são sempre factores de risco.
Pessoalmente, eu preferia viver numa sociedade em que imperasse o Adeus às Armas, à Hemingway.
Optaria por uma civilização onde não existiriam privilégios algo anacrónicos, como a desnecessidade de licença para juízes ou oficiais das forças armadas.