terça-feira

PICASSO E FERNÃO DE MAGALHÃES: ASSASSINOS E DEVASSOS


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Na minha obsessiva busca por um folheto que não tenha erros, sou forçado a concluir: não há revisões.
O empregado da superfície comercial elabora o panfleto. São impressos milhares de exemplares, gastam-se rios de dinheiro e imensos consumidores lêem-nos.
Mas, antes de ir para a gráfica, não há um revisor que corrija a maqueta.
Vejamos este papelucho natalício da livraria Bertrand.
São apresentados dois livros do mesmo autor: “101 Heróis” e “101 Monstros”.
Pelos títulos, vê-se logo que são praticamente a mesma coisa. Vão os dois no mesmo sentido. É praticamente a Parte 1 e a Parte 2 da mesma obra, dedicada a pessoas com idênticos estilos de vida. Mozart, Hitler, Sarah Bernhardt ou Stalin tanto poderiam constar de um como de outro livro.
Por isso, a sinopse deve ser praticamente igual, num caso e noutro.
Assim, 101 Monstros agrupa as biografias “dos supremos heróis e heroínas da História Mundial”. 101 Heróisé um ABC de assassinos e devassos”.




Aristides de Sousa Mendes ficou de fora.
Ainda temi o pior quando o empregado da Bertrand resolveu anunciar a sua biografia, intitulada “Um Homem Bom”. Atendendo à competência anteriormente demonstrada, era mais do que certo que o cavalheiro iria baralhar as coisas.
Receei que lhe chamasse “Um Homem Mau” ou “Uma Mulher Boa”.
Mas vá lá. Podia ser mais grave. O publicitário amador limitou-se a trocar a ordem dos factores. Ficou “Um Bom Homem”.
É claro que não é a mesma coisa que um Homem Bom.
Designar alguém por bom homem apenas sucede naqueles casos em que não nos ocorre mais nada para dizer sobre a criatura.
É um bom homem” significa que o sujeito não fez nada de especial, mas também não deve ter incomodado ninguém.
Faz lembrar a expressão francesa:
- Il est bien sympa.
Chega a ser quase ofensivo. Em francês, descrever alguém e limitar-se a afirmar que é um simpático, quer dizer que ele não vale mesmo nada.
No mesmo registo francófono, é abissal a diferença entre “un homme bon” e “un bonhomme”. Este último vocábulo refere-se a um pobre coitado, um desgraçado, um simplório, um homenzinho ou alguém que não tem onde cair morto.


(Folheto Bertrand Livreiros, de 14 de Novembro a 24 de Dezembro)