quarta-feira

ABALO NA JUSTIÇA



Em 2004, estive em Copenhaga, na Dinamarca.
Frequentava um curso promovido pela Comissão Europeia. O mesmo versava a Gestão de Crises. Não crises financeiras, como a que se vive um pouco por todo o planeta. Também não eram crises familiares, bem comuns nos dias que correm. Não estavam em causa simples crises políticas, motivadas pela demissão de algum governante. Muito menos se abordava a crise energética, motivada pela escassez do petróleo. Não era a crise da habitação, tão falada aqui há cinquenta anos atrás, em Portugal.
Tratavam-se, sim, de crises sociais ocorridas em países afectados pela guerra, pela pobreza extrema ou por desastres naturais.
Logo após concluir os estudos, fui convidado para uma missão de seis meses no Iraque.
Na altura, eu ainda era casado. Tinha enorme desejo de aceitar a proposta. No entanto, a minha mulher opunha-se frontalmente, sobretudo devido à tenra idade de nossas filhas. Acabei por recusar a aliciante oferta.



No Haiti, vive-se presentemente uma crise deste tipo.
Assume as características de tais crises sociais, que aprendi a gerir. Trata-se de algo que surgiu inesperadamente. Ou seja, era imprevisível. Depois, geram-se incertezas. Portanto, é difícil fazer prognósticos. Finalmente, ameaça pilares essenciais da vida em sociedade.
Um dos aspectos essenciais na gestão destas crises consiste no restabelecimento do sistema de justiça. É importante haver juízes em tribunais eficientes. Torna-se decisivo que as sentenças condenatórias sejam cumpridas com rigor. Designadamente, é fundamental a existência de cadeias em normal funcionamento.
O pior que pode acontecer é a prevenção ou repressão de crimes, fora do quadro do sistema de justiça.
No Sábado passado, cerca de vinte assaltantes bloquearam uma estrada. Naquela artéria, iria passar um comboio de camiões, transportando géneros alimentícios carregados no aeroporto, que provinham de ajuda internacional. A finalidade dos bandidos consistia em apoderarem-se dos veículos e da sua carga, para a comercializarem.
Ainda conseguiram deter os veículos. Porém, agentes haitianos e das Nações Unidas intervieram atempadamente. Dispararam tiros de alarme e causaram a dispersão dos criminosos.
O desejável teria sido proceder à sua prisão e condução ao tribunal.
Tendo escapado, garantidamente os ladrões já estarão a planear novos assaltos.
Muita atenção deve também ser dada a próximas manifestações, que poderão tornar-se focos de violência.
O Partido Lavalas tem sido excluído das eleições. Contudo, está a preparar acções para os próximos tempos. Trata-se de uma organização que apoia Jean-Bertrand Aristide, o ex-presidente exilado na África do Sul.
Importa acompanhar cuidadosamente as respectivas manifestações, acautelando e punindo actos violentos.