segunda-feira

MORTE NO MAR

Passaram já 16 anos desde a altura em que me tornei patrão de costa.
Durante um ano lectivo, aprendi tudo o que há para saber sobre a pilotagem de embarcações.
Os alunos eram futuros desportistas náuticos, com as mais variadas formações. Havia médicos, um arquitecto, engenheiros, um piloto de aviação, juristas e muitas outras pessoas com diferentes profissões.
Os conhecimentos resultantes da preparação académica e da experiência profissional acabavam por se revelar úteis.
O meu colega piloto de aviação tinha a maior das facilidades em traçar as rotas.
Era dos exercícios mais interessantes. O aluno deve colocar a embarcação no ponto de partida e indicar o trajecto até ao local de chegada. A rota é traçada numa carta marítima.
É um processo lógico e exacto que só pode conduzir a um resultado correcto. Mas falhando-se um elemento logo de início, toda a rota ficará mal traçada daí para diante.
Muitos de nós cometíamos erros.
Chegava-se ao ponto de traçar uma rota e determinar que o navio percorresse determinados espaços marítimos, mas a dada altura teria de atravessar uma ilha. Estas situações surgiam sem que o estudante se apercebesse dela, enquanto desenhava sobre a carta marítima. Munido de uma régua, traçava uma linha. Fazia passar a embarcação por terra. Só mesmo se fosse uma viatura anfíbia…
Os engenheiros electrotécnicos estavam à vontade nas telecomunicações.
Os médicos encaravam com a maior das simplicidades os primeiros socorros.

PRESERVAR VIDAS


Os juristas mostravam-se dotados para uma cadeira: salvaguarda de vidas humanas no mar.
É um dos aspectos mais delicados.
Há algo que acontece todos os dias. A lotação é de doze pessoas. O dono do yacht convida uns amigos, tendo em conta esse limite.
No dia em que vão zarpar, surgem mais duas pessoas que acompanham um dos convidados. Por uma questão de delicadeza, o skipper não lhes recusa a participação na viagem.
Está-se a navegar em risco.
É vulgar uma embarcação acostar a um porto e ser fornecida uma informação difícil de confirmar. O skipper afirma que partiram cinco pessoas. Agora estão apenas quatro a bordo. Uma terá caído ao mar durante a viagem.
A veracidade desta alegação terá de ser verificada. Mas é uma tarefa complicada.
Em primeiro lugar, importa apurar se partiram mesmo cinco pessoas. Ou será que se pretende apenas simular a morte de alguém? Estes casos acontecem sobretudo para reclamar o seguro de vida.
Se realmente o yacht zarpou com cinco pessoas, há que tentar determinar como se deu o desaparecimento. Pode ter sido acidente, suicídio ou assassinato.
Um dos casos mais complicados foi o de Robert Maxwell, o magnata dos media, que detinha um império de comunicação social.
O empresário encontrava-se a bordo do seu yacht, depois de ter zarpado da Ilha da Madeira. Caiu ao mar e morreu.
Ainda se colocou a hipótese de ter sido um acto suicida. Maxwell não pretenderia enfrentar a falência do seu grupo económico.
A verdade é que ele pertencia à Mossad, os serviços secretos de Israel. Porém, no seio desta organização, temia-se que Robert Maxwell divulgasse o muito que sabia sobre a mesma. Uma brigada de 4 membros da Mossad abordou a luxuosa embarcação a meio da noite. Lançaram o homem de negócios para fora de borda, pondo-lhe termo à vida.