domingo

A MORTE, O CASAMENTO E A RELIGIÃO



















Tenho o maior respeito pelas Testemunhas de Jeová. Integram uma organização bem implementada em Portugal e professam convictamente a sua fé. Obedecem rigorosamente aos respectivos princípios.
As posições das Testemunhas de Jeová são muito discutidas pelos estudiosos da Medicina e do Direito.
A questão primordial é que eles se recusam a receber transfusões de sangue, por motivos de ordem religiosa.
Sempre se tem entendido que esta posição é legítima. Claro que inviabiliza intervenções cirúrgicas e conduz muitas vezes à morte. Mas eles preferem entregar a alma a Deus.
Já quanto aos filhos de Testemunhas de Jeová, a matéria é mais delicada. Enquanto crianças, devem obediência aos pais. São estes que tomam as decisões pelos descendentes. Invariavelmente, nos hospitais, não autorizam transfusões de sangue a realizar aos filhos.
Aqui a matéria é mais delicada do ponto de vista legal.
No que respeita a tratamentos médicos, até aos catorze anos de idade, quem decide tudo são os pais. Se um dente deve ou não ser extraído, se é de fazer uma operação à garganta, se o menor deve tomar a vacina contra a gripe: os pais é que mandam.
Contudo, a sociedade tem de intervir quando um progenitor prefere que o filho morra e não autoriza uma transfusão de sangue por motivos religiosos.
Os pais podem determinar que os filhos menores procurem seguir a sua fé. Mas isso não pode ir ao extremo de implicar a morte da criança.


A OPERAÇÃO


O Presidente de uma Câmara Municipal do Alentejo profundo contou-me certa vez um episódio dramático.
Ele é médico e durante anos dedicou-se ao tratamento dos doentes.
O caso ocorrido com este clínico político passou-se já há alguns anos.
O doente e sua esposa encontravam-se no hospital. Por serem ambos Testemunhas de Jeová, manifestaram que se opunham a qualquer transfusão. Como a intervenção cirúrgica era inevitável, o paciente iria falecer. Dispunha-se a tal, contando, a seu lado, com a presença solidária da mulher até ao momento final.
Com o passar do tempo, a reflexão fez com que ele quisesse agarrar-se à vida. Disse ao clínico:
- Pronto, quero ser operado!
Nesse momento, ouviu da boca da sua esposa palavras que o atingiram como navalhas:
- Para mim, tu acabaste de morrer ao tomar essa decisão. Não quero saber mais de ti.
Imagine-se o drama deste homem, dividido entre a sua religião, o apego à vida e o seu matrimónio.