quinta-feira

O QUE A MÃE CONTA


Merece-me todo o respeito o livro “Madeleine”, redigido por Kate McCann. É uma obra muito interessante, cuja leitura recomendo.
Obviamente, o pai e a mãe não têm iguais responsabilidades quanto ao trágico desaparecimento da filha. É provável que os dois nem sequer saibam as mesmas coisas sobre o assunto. Possivelmente, alguma luz brotará se o casal se vier a divorciar, um dia.
Um dos erros mais flagrantes do inquérito policial foi a constituição dos dois progenitores como arguidos, de uma assentada, equiparando-os. Não havia nenhum elemento a indicar que ambos tinham agido mancomunados.
Aliás, posteriormente, o director da Polícia Judiciária admitiu que tinha havido precipitações.


O PRIMEIRO SUSPEITO

Neste livro, a autora foca a confusão que surgiu logo no início.
Refere-se ao modo como os investigadores perseguiram Robert Murat, concentrando-se em alguém que não levantava suspeitas válidas.
Este luso-britânico foi constituído arguido, interrogado e confrontado com várias testemunhas. A sua casa e o respectivo jardim foram alvo de intensas buscas.
Evidentemente, ele nada tinha que ver com o caso. Como explica Kate McCann, residindo ele na “Casa Liliana”, a cem metros do Ocean Club, é natural que tivesse sido avistado nas imediações do complexo turístico. Mas tal ocorreu porque ele se encontrava junto de sua casa e não devido a querer aproximar-se do local onde se encontrava alojada a menina desaparecida.
Murat, como suspeito, foi uma invenção da jornalista Lori Campbell, do jornal “Sunday Times”. Ela quis escrever artigos sobre uma personagem hipoteticamente misteriosa, filho de pai português e mãe inglesa. Morava com a progenitora, apesar de contar mais de trinta anos de idade, e dizia trabalhar como agente imobiliário. Ainda por cima, tinha um amigo russo, entendido em informática, como se tal fosse algo de muito estranho.
Infelizmente, a polícia agarrou-se a estas suposições da jornalista, exactamente como ela tanto queria. Foi uma preciosa ajuda para a repórter desenvolver as suas notícias.
A investigação lançou-se num enleado percurso sem rumo traçado, para não dizer que ficou completamente à deriva.
Muito mais tarde, Kate McCann analisou minuciosamente o processo e chegou à seguinte conclusão: “não encontrei nada que pudesse ser classificado como provas concretas contra o Murat”. Nem ela as encontrou nem ninguém as descobriu. Robert Murat é completamente alheio ao caso.




OS VIDENTES

Outro aspecto curioso do livro concerne aos oportunistas, que abordavam os pais de Maddie.
Explica Kate que, no seu desespero, prestou demasiada atenção a videntes: “apesar de sermos os dois cientistas por inclinação e profissão, o Gerry e eu cedemos”.
Investimos algum tempo e até recursos a seguir as indicações de milhares de metapsíquicos, tempo e recursos que, percebo agora, teriam sido mais bem empregues em trabalho de investigação mais ortodoxo
A informação fornecida por esses charlatães era “extremamente vaga. Descrever uma casa branca junto de um caminho de terra não ajuda muito. Há milhões de casas brancas no mundo e milhões de caminhos de terra”.
Os detractores de Kate poderão dizer que ela faz estas afirmações apenas para desviar as atenções. Manifesta-se muito preocupada e aflita, em busca da filha, quando na realidade sempre soube perfeitamente o que ocorreu. Creio que a leitura da obra demonstra que não é esse o caso.