sábado

A HORA DA MORTE


É particularmente interessante o novo livro de Hernâni Carvalho. Versa sobre o bárbaro assassinato de Carlos Castro e intitula-se “Morrer em Times Square”.
Eu tenho verificado que há duas correntes, na opinião pública.
Uns defendem que Renato Seabra foi levado àquele acto tresloucado devido ao tipo de relacionamento que Castro quis impor.
Noutra perspectiva, entende-se que este assassino era já uma pessoa desequilibrada. Mais tarde ou mais cedo, ver-se-ia perante uma situação qualquer que espoletaria a sua faceta violenta. Mesmo que não existisse um homem chamado Carlos Castro, haveria sempre outra vítima que morreria às mãos deste criminoso.
Eu tendo a perfilhar esta última posição.



VOZEARIA


Deste livro agora publicado, destaco dois pontos importantes.
Em primeiro lugar, Carlos Castro sempre soube que Renato não era homossexual.
Como afirma o autor da obra, o assassino manifestava uma condição egodistónica. Sendo heterossexual, aceitava manter um relacionamento com um indivíduo do mesmo sexo.
Amigo de Carlos Castro, o escritor Guilherme de Melo confirma que o cronista tinha conhecimento disso. Aliás, tal correspondia ao padrão de conduta da vítima: “O Carlos nunca se apaixonou por rapazes que fossem genuinamente homossexuais” – diz Guliherme.
Outro aspecto relevante concerne ao diálogo mantido com o jovem de Cantanhede, nos momentos que antecederam o homicídio.
Não se pode dizer que a conversa tenha sido especialmente longa, para quem partilhava o mesmo quarto de hotel há mais de uma semana.
A morte terá ocorrido cerca das 14h00m. Pelas 12h25m, Renato encontrava-se sozinho, na rua. Ligou à mãe, recorrendo a um telefone emprestado.
Às 12h47m, voltou a falar com a progenitora. Encontrava-se já acompanhado de Carlos Castro, na unidade hoteleira. Aparentemente, o jovem acabara de chegar aos aposentos.
A irlandesa Suzanne Divilly, hospedada no mesmo piso, confirmou ter ouvido vozearia, entre as 13h00m e as 14h00m.




A PERSONALIDADE MANIFESTA-SE


Mesmo considerando a hipótese mais benévola para o arguido, um assassinato nunca seria uma resposta tolerável.
No campo da mera suposição, imagine-se que Carlos Castro teria dito qualquer coisa como o seguinte:
- Renato, lembra-te das quantias que eu já transferi para a tua conta bancária. Fui eu que te proporcionei o casting para os boxers da Marvel. Só compareceste em certos eventos porque ias comigo. Por exemplo, a exposição do Domingos Oliveira, no Hotel Corinthia. Se tu me traíres e me abandonares, eu posso destruir a tua carreira. Não serás ninguém no mundo da moda, Renato.
Se tal pressão tivesse ocorrido, um indivíduo normal faria uma opção. Ou cedia à chantagem e mantinha o relacionamento, temendo que as ameaças se concretizassem. Ou, então, seguiria a sua vida, diria adeus ao companheiro e procuraria que ele não o prejudicasse.
Ninguém provido de razoabilidade julgaria que a solução para o dilema seria cometer um homicídio.
Por isso, eu creio que a personalidade de Renato Seabra se manifestou naquele instante criminoso. Tal como sucederia numa outra ocasião qualquer, envolvendo pessoas diferentes, mas em que o modelo fosse confrontado com um momento de tensão e medo.