quinta-feira

SEM SABER DE NADA


Não sou supersticioso. Designadamente, não me incomoda estar num local onde ocorreu uma morte trágica, como um homicídio.
Aliás, a minha casa pertencia a um indivíduo que foi raptado e assassinado no Brasil. A viúva não teve coragem de voltar a entrar na casa onde os dois planeavam gozar a reforma. É natural que a senhora ficasse perturbada ao permanecer numa casa que foi pensada para o casal. A mim, não me causa qualquer aborrecimento, como também é compreensível.
Curiosamente, uma das minhas vizinhas é também viúva, tendo o marido sido barbaramente morto igualmente no Brasil. E num café-restaurante da mesma urbanização, ocorreu um homicídio. O estabelecimento encerrou, na ocasião. Passados uns tempos, reabriu. Mas por pouco tempo. Parecia que não havia muitos clientes que se sentissem à vontade ali. Há anos que está desocupado e ninguém se mostra interessado em explorar a casa.



SIGILO TOTAL

Vem isto a propósito de eu ter acabado de ler uma novidade editorial: o livro “Renato Seabra – A Queda de um Anjo”. O seu autor é Rodrigo Freixo, o jornalista que cobriu o assassínio de Carlos Castro para a revista “Caras”.
É interessante o que ele conta a propósito de um turista, que se encontrava hospedado no Hotel Intercontinental, quando aí ocorreu o crime.
O homem encontrava-se de visita a Nova Iorque, com a mulher e os dois filhos. Ocupavam dois quartos no 35º andar, ou seja, no piso imediatamente acima relativamente àquele onde Castro foi morto.
Este hóspede veio a tomar conhecimento da ocorrência, mas decidiu não relatar nada à família. Tinha decidido mudar de unidade hoteleira, caso a mulher ou os filhos viessem a saber do crime.
A verdade é que conseguiu mesmo ocultar aquela tragédia, para não os impressionar.
Havia muitos jornalistas à porta do Intercontinental. O 34º piso foi isolado. O acesso aos elevadores era controlado por empregados, que apenas permitiam a entrada a quem ocupasse um quarto.
Em todo o caso, o pessoal tinha ordens para não abordar o tema.
O crime deu-se em 7 de Janeiro. Aquela família esteve no hotel até ao dia 11. Somente nesse dia, já no aeroporto, o sujeito veio a narrar a família os motivos de tanto aparato subitamente instalado na unidade onde ficaram hospedados.
É uma obra cuja leitura recomendo.