domingo

O MUNDO É PEQUENO



No seu livro “As Rectas São Uma Seca”, o brilhante actor Vítor Norte diz que não se incomoda com as constantes abordagens por fãs. Explica: “enquanto houver famílias que se juntam para ver a novela, tudo isto faz um certo sentido. Quando me abordam, são bem-vindos. São eles que pagam o pão para os meus filhos”.
Infelizmente, a sua filha Sara Norte, com 27 anos, causou agora uma desilusão. Regressando de Marrocos, foi capturada a transportar haxixe, destinado ao tráfico. Encontra-se presa em Espanha.
Quando eu contava treze anos de idade, apanhei com uma peculiar professora de Francês. A nós, alunos, ela surgia como demasiado extravagante. Não tivemos muitas saudades da Claire, quando terminadas as férias da Páscoa, nos foi comunicado que ela fora substituída por uma colega de quem eu guardo as melhores recordações. Nunca nos explicaram por que motivo a Claire deixara de leccionar. E também ninguém se deve ter preocupado muito em saber porquê. Gostámos imenso da nova professora.



MARROCOS
Trinta anos mais tarde, eu vim a tomar conhecimento do que efectivamente sucedeu com a Claire, que me ensinou língua francesa durante meio ano lectivo.
Em conversa com uma amiga, eu contei que as minhas filhas estudavam num instituto de línguas, que eu próprio frequentara durante 7 anos. Sabendo qual a minha idade, a Ana perguntou-me quem tinham sido os meus professores de Francês. Inevitavelmente, falei-lhe na Claire.
Na Páscoa de 1980, esta minha amiga visitou Marrocos. Aí conheceu exactamente a tal Claire, que viajava no mesmo autocarro, com o seu filho de 6 anos.
Quando se preparavam para deixar o território marroquino, um funcionário da alfândega aproximou-se da cidadã portuguesa. O agente trazia consigo o menino. Imediatamente, a Ana apercebeu-se de que algo de anormal se havia passado.
A francesa fora apanhada com droga na mala de viagem. Ainda por cima, forçara o filho a esconder haxixe no cano das botas.
Permanecendo presa, a preocupação das autoridades era a de entregar o menino ao pai. A minha amiga ofereceu-se para cumprir tal missão, a pedido do guarda da fronteira.
E foi assim que nós ficámos sem professora de Francês. Ignorávamos é que ela cumpria pena em Marrocos, por tráfico.
Vim a confirmar tudo com uma funcionária do instituto de línguas. Após a sua libertação, a Claire pediu o emprego de volta. Não conseguiu, mas passaram-lhe uma carta de recomendação.