quinta-feira

VER-SE LIVRE DA EMPRESA ENDIVIDADA




Vários compatriotas nossos constam da lista dos homens mais ricos do mundo, publicada pela revista “Forbes”.
Imagino que o maior orgulho desses portugueses não consista em ser donos de milhões de euros. Creio que a sua realização principal se prenderá com a obra criada, a riqueza gerada para a economia nacional e os milhares de empregos que proporcionam.
A actividade corticeira de Américo Amorim, no topo do elenco, prende-se com os mais variados aspectos: agricultura, transformação, comercialização…
Mas, curiosamente, aqui há uns anos este empresário aplicou um esquema que vem sendo cada vez mais utilizado para livrar uma empresa de dívidas e deixar os credores sem dinheiro. Tudo sem encerrar a organização, sem afectar o bom nome dos sócios nem declarar imediatamente a insolvência da sociedade.



BINGO


O caso passou-se em Setúbal, com a sala de bingo pertencente ao clube desportivo local.
No verão de 2006, iniciaram-se obras de remodelação neste espaço do Vitória de Setúbal.
Em 29 de Junho de 2007, ocorreu uma tragédia. Faltava apenas a instalação do ar condicionado. A reabertura estava prevista para os dias seguintes. Naquela data fatídica, a cobertura da sala ruiu. A derrocada foi de tal ordem que se impunha uma recuperação quase total do edifício.
A obra estava a cargo da empresa Bingo Plus, de Américo Amorim. Desde 2003, esta firma explorava a sala de jogo. Ainda não se encontrava formalmente constituída e já tinha um contrato milionário assegurado. Anualmente, pagava ao clube desportivo a quantia de 700 mil euros. O protocolo tinha a duração de 10 anos.
O edifício permaneceu em ruínas, enquanto se gerava um litígio entre as partes.
Segundo o contrato, no caso de haver algum desacordo, as partes deveriam recorrer a um tribunal arbitral.
Assim, em 2009, os árbitros deliberaram dar razão ao Vitória de Setúbal. Condenaram a Bingo Plus a pagar ao clube a quantia de 5,2 milhões de euros.
O grupo Amorim demarcou-se imediatamente do caso. Esclareceu que a empresa já não lhe pertencia.
O milionário não tinha perdido tempo. Pôs-se a salvo. Desfez-se da empresa Bingo Plus. Constituiu uma outra sociedade, com o mesmo objecto social, a Bingolandia. Através desta nova empresa, Américo Amorim manteve-se no negócio do bingo.



MILHÕES POR PAGAR

Tratou-se de uma vitória para o clube de Setúbal. Mas com sabor amargo, porque o crédito de 5,2 milhões recaía sobre uma empresa que viria logo a falir. O clube deixou de receber a contrapartida anual devida pela Bingo Plus. Ficou sem as instalações do bingo. Ainda se deparou com as dívidas de IVA, que deveria ter cobrado à concessionária.
Entretanto, 50 trabalhadores ficaram no desemprego.
Em 15 de Janeiro de 2010, o Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia declarou a insolvência da Bingo Plus – Turismo e Animação, S.A. Em 9 de Março, o tribunal encerrou o processo. A juíza Isabel Faustino decretou o arquivamento devido à total inexistência de bens em nome da Bingo Plus.
Amorim continua a explorar salas de bingo, agora com a nova sociedade denominada Bingolandia. Tem a seu cargo cinco espaços, que facturam cerca de 23 milhões de euros por ano.
A direcção do Vitória de Setúbal mudou. Agora quem explora a nova sala de bingo do clube é precisamente a Bingolandia. Américo Amorim está de novo a lucrar com o mesmo negócio, sob outro nome.
Semelhante expediente é usado em inúmeros casos, por indivíduos que se querem afastar de empresas endividadas.