domingo

OUTIVA



Pode gostar-se ou não do estilo de José António Saraiva, antigo diretor do “Expresso” e do “Sol”.
O livro “Eu e os Políticos” será lançado no próximo dia 26, no El Corte Inglés. Suscitará algumas reservas numa perspetiva moral. Alguns até o considerarão eticamente reprovável.
Agora, do ponto de vista legal, trata-se de uma obra inatacável. Juridicamente, o autor limita-se a oferecer o seu depoimento como alguém que se senta na cadeira das testemunhas de uma sala de audiências, no decurso de um julgamento.
Conta aquilo a que assistiu: o que viu e ouviu.
Nalgumas situações, relata o que outros lhe narraram. São declarações de outiva, indiretas, de ouvir dizer. Até estas, contrariamente ao que por vezes se supõe, são plenamente válidas. O essencial é convocar quem fez a descrição, desde que tal seja possível. Para começar, é indispensável que a pessoa esteja viva.


SECOND WATCH

É o que se passa com um longo telefonema, de uma hora e quarenta e cinco minutos, que o arquiteto manteve com Margarida Marante, há 12 anos. A jornalista quis conversar sobre Emídio Rangel, colega com quem casara em segundas núpcias, e o irmão deste, juiz desembargador.
A informação era tanta que Saraiva não pôde ficar com certezas: “não sei o que é verdade e o que é imaginação de Margarida Marante”.
Ela falou em coisas que todos sabem ser reais, como as elevadas despesas que o marido fazia ao adquirir cocaína.
Mencionou outras que são pouco verosímeis, como a de ele ter comprado um relógio Swatch por quinze mil euros. Mesmo no mundo reservado aos colecionadores, escassos modelos da marca atingem esse montante.
Depois, referiu uma empresa de Rui Rangel, que se dedicaria ao tráfico de armas para Angola.
Margarida ainda descreveu idas ao hospital. Ora para fazer análises após conversar com uma prostituta que mantivera relações com Emídio. Ora para tratar de uma fratura ao pulso, após uma cena de violência doméstica.