quarta-feira

CAROCHA TONTA

Aqui há dezasseis anos atrás, telefonaram a uma senhora de Oliveira de Frades, dizendo-lhe que o filho – já adulto – tinha falecido, vítima de atropelamento, em Lisboa.
O Carlos trabalhava na capital e raramente dava notícias. Desconsolada, a mãe deslocou-se a Lisboa e viu enterrar o finado. Pagou o funeral com especial sacrifício, mediante prestações.
Três meses decorridos – já com o enterro totalmente pago -, apareceu-lhe o filho, à porta de casa. Afinal, ele nunca sofrera nenhum acidente. Verificara-se um erro na identificação do cadáver.
Muitos recordam-se do mítico Quarteto 1111, liderado por José Cid, o cantor da Chamusca.
O técnico de som da banda era um espanhol chamado Paco Ayuso, cujos progenitores se haviam radicado no nosso país. Ele andava sempre acompanhado da sua namorada portuguesa, a Mitu.
Certa vez, o jovem Paco foi tomar um copo ao Casino Estoril e demorou-se até tarde.
Quando chegou a casa, às quatro da manhã, viu os pais, com um ar angustiadíssimo, envergando robe e preparando-se para sair no automóvel, que se encontrava na garagem.
A mãe de Paco avistou-o e agarrou-se a ele, a chorar:
- Estás bem, meu filho?
Embora Paco de nada soubesse, sucedera uma triste ocorrência, que levou os seus pais a pensarem que ele teria morrido ou ficado gravemente ferido num acidente.
Infelizmente, dera-se um pequeno arrufo de namorados entre o espanhol e a Mitu. Por isso, Paco pediu a José Cid que levasse a sua namorada a casa dela, situada em Lisboa.
No seu Volkswagen carocha, Cid transportava, para além da jovem, outros amigos.



SEM TELEMÓVEL
Na zona de Carcavelos, verificou-se um aparatoso acidente, do qual resultou a perda de um olho do condutor. Salva uma excepção, todos os passageiros sofreram ferimentos. A própria Mitu foi atingida por golpes profundos e longos na face, devido à quebra do pára-brisas e ao facto de ela circular no assento dianteiro.
Armando foi o que menos padeceu fisicamente, mas entrou em estado de choque. Afastou-se do local e anunciou que todos os outros haviam morrido, quando, na realidade, ninguém veio a perder a vida.
Entretanto, a Mitu pretendia prevenir os pais do que ocorrera.
Mas estávamos em 1969 e os progenitores dela não dispunham de telefone em casa. Por isso, forneceu o número dos pais de Paco, para que a família fosse avisada.
Ora os espanhóis sabiam que, diariamente, era o seu filho que transportava a namorada a casa.
Por isso, presumiram que Paco fosse o condutor do veículo sinistrado.
Daí aquela saída intempestiva e o inesperado encontro com o filho, são e salvo.
O episódio vem narrado no livro de António Pires, “As Lendas do Quarteto 1111”, recentemente editado. Vale a pena ler esta interessante obra, repleta de histórias ocorridas no Ribatejo, designadamente no extinto Club dos Ricos, de Santarém.