sábado

INFORMAÇÃO DRAMÁTICA



Há duas quase certezas no caso da fuga da cadeia de Caxias.
A primeira é óbvia. Os três presos evadiram-se com o auxílio de um guarda.
Outro aspeto é igualmente claro. Joaquim Matos nunca será recapturado.  Ausenta-se para fora do espaço europeu controlado pelo esquema SIRENE e nunca mais será extraditado.
O seu futuro será o mesmo de Sandro Bala, o brasileiro que escapou para sempre, mesmo antes de ser submetido a julgamento. Vive tranquilamente em Brasília, com a mulher e os três filhos.


CARNAVAL

Aqui há uns anos, ocorreu um caso passado com um recluso que contou também com a ajuda do carcereiro que o deveria vigiar.
Antes de prestar contas com a justiça, o homem morava em Setúbal. Com recurso a um diploma falso, tinha-se feito passar por professor liceal, o que lhe permitia auferir um confortável salário.
Entretanto, prometeu organizar um grandioso corso carnavalesco em terras do Sado, com a presença de uma atriz brasileira de telenovelas, o que envolvia meios financeiros avultados. Chegado o entrudo, nada se concretizou.


AQUARTELAMENTO

Gonçalo cumpria pena no Linhó quando foi autorizado a ir a Santarém, para tratar de assuntos burocráticos relacionados com a sua situação militar. Seguiu com escolta aligeirada até ao quartel onde atualmente funciona o Tribunal da Concorrência, também pomposamente designado por “Palácio da Justiça II” na sinalética rodoviária escalabitana.
Resolvidas as formalidades, ele e o guarda que o acompanhava foram almoçar a um restaurante da cidade ribatejana. A eles reuniu-se o pai do prisioneiro, que assim usufruiria de uns momentos de convívio com o filho.
Na realidade, estava planeada uma fuga, com o custo relativamente modesto de 800 contos, o equivalente a 4 mil euros.
Os três comensais encontravam-se entretidos em redor das sobremesas, quando o criminoso se deslocou às instalações sanitárias. O seu ascendente e o guarda prisional conversavam animadamente e o tempo passava. Quando deram por eles, o prisioneiro desaparecera sem regressar à mesa.
O agente da autoridade desfez-se em desculpas perante os superiores, explicando que permitira a ida à casa-de-banho porque esta ficava ao alcance da sua vista. Mas o progenitor do recluso conseguira distraí-lo, fingindo derrubar um copo.


CAPTURA

Foi relativamente simples capturar o foragido. Seus pais habitavam num 12º andar setubalense e bastou rondar o prédio.
A dado momento, quatro ergastulários dos nossos dias subiram. A porta de entrada no apartamento abriu-se voluntariamente. Ainda assim, o progenitor de Gonçalo foi atingido a tiro no ombro, na sequência de um escusado disparo.
O preso foi agarrado e conduzido de volta ao Linhó.
A Expo 98 ainda era um projeto em elaboração e o Tejo não era unido pela travessia da Vasco da Gama.
A forma de chegar à outra banda passava forçosamente pela Ponte 25 de Abril.
Horácio, o masmorreiro que antes abrira fogo sobre o pai do prisioneiro, teve uma ideia que poria fim às dúvidas sobre a colaboração do seu colega na evasão.
Era já de noite e ele estacionou a carrinha celular em pleno tabuleiro, sobre o rio.
Retirou o detido do interior do veículo e aproximou-o da barreira de proteção. Fê-lo espreitar para as águas, a 190 metros de distância. Disse-lhe:
- Com toda a facilidade, vais parar lá abaixo e toda a gente pensará que te suicidaste. Não queres mesmo contar como é que escapaste ao Bento?
Foi então que o cavalheiro admitiu ter beneficiado de um favor, a troco de uma contribuição monetária.
Metido de novo no veículo, rapidamente chegou ao estabelecimento prisional, onde passou 20 dias isolado em cela disciplinar.
Não terá sido bem tratado e queixou-se de espancamentos.
Verdadeiramente, quem lhe bateu foi Horácio, o mesmo de sempre. O que alvejara seu pai. O tal que lhe pregara um susto na ponte pênsil. E o que arreou tanto nele que até o fez perder alguns dentes, motivando um internamento no hospital prisional.
Mas, talvez para desviar as atenções daquela confissão extorquida sobre o rio Tejo, o delinquente viria a narrar que o agressor fora o tal Bento, supostamente desejoso de se vingar da traição cometida na ida ao urinol.