quarta-feira

NEGÓCIO FRACASSADO




Tudo parece saído de um filme.
Daqueles em que os criminosos são uns desajeitados meliantes, que planeiam as coisas meticulosamente. Mas, depois, sai tudo furado.
O protagonista é um indivíduo que explorava um restaurante, em Tomar.
As outras personagens são únicas.
Há um bombeiro, que andava de Mercedes Benz. Estava sempre disponível para serviços extra, desde que rendessem algum.
Depois, temos o porteiro de uma discoteca. Praticava musculação. O sonho dele era ter um carrito jeitoso.
Vem ainda um homem que comprou uma viatura, mas que não pagou uma única prestação. Decidiu vendê-la logo depois de a haver adquirido.
Finalmente, surge um desgraçado que trabalhava no Hospital de Santa Maria e que pediu boleia a um amigo. Viu-se envolvido num trinta e um.
Para contar o que se passou, regressemos ao tal cavalheiro que tinha uma tasca em Tomar.
Ele já tinha passado uma temporada na cadeia, por tráfico de droga.
Montou um restaurante. Mas como os negócios não andavam famosos, prestava também serviço como vigilante, em part-time.
Mesmo assim, via-se grego para arranjar o dinheiro de que precisava.
No mercado negro, comprou um colete que ostentava as palavras “Polícia” nas costas. Além disso, adquiriu um crachá de guarda prisional.
Oferecia-se para diversos serviços.
Ora um cavalheiro tinha comprado um Audi A3 num stand.
Ficou de pagar o carrito em prestações, mas não satisfez nenhuma delas.
Pelo contrário, pôs-se logo a circular com o automóvel, dizendo que o queria vender.
O tal porteiro da discoteca ofereceu-lhe dois mil contos pelo veículo. Passou-lhe para a mão cinco mil euros, como entrada.
O outro nunca mais lhe entregava o automóvel. Nem podia, pois o veículo ainda estava em nome do stand.
De modo que o porteiro decidiu pedir ajuda ao tal indivíduo de Tomar.
Este contactou um amigo, que era bombeiro, para que fossem muitos.
Entretanto, o bombeiro tinha um conhecido, que trabalhava no Hospital de Santa Maria. Disse-lhe que lhe dava boleia até Lisboa. Antes de o deixar lá, só tinham de ir fazer um servicito…
O porteiro telefonou ao indivíduo que lhe vendera o Audi A3. Marcou um encontro com ele, em Lisboa, na via pública. O objectivo era reaver o dinheiro que entregara, para pagamento do veículo.
Só que a reunião não incluía apenas os dois.
De Tomar, saiu o tal traficante-comerciante-vigilante. Ia num desportivo Audi TT.
O bombeiro também ia dar uma ajuda. Seguia num Mercedes Benz, acompanhado do seu amigo, a quem prometera boleia até ao local de trabalho.
O cavalheiro que prometera vender o Audi chegou a Lisboa. Ia num Renault 5, a cair de podre.
Ora os dois que tinham fechado o negócio entabularam conversação.
O porteiro exigia a restituição do que havia pago. O vendedor do Audi A3 dizia que tinha havido um problema com o anterior proprietário do veículo.
Ali mesmo ao seu lado, bem visíveis, já se encontravam outros dois: o tal bombeiro e o seu amigo, que se vira envolvido naquele imbróglio sem saber como.
O porteiro era um tipo corpulento. Disse ao vendedor do automóvel para entrar no Mercedes do amigo.
É claro que o homem se recusou.
Foi então que surgiu o indivíduo de Tomar, todo armado em bom.
Envergava o colete, com os dizeres “Polícia”.
Os transeuntes estranharam.
Mas ele exibiu o crachá de guarda prisional e gritou:
- Polícia Judiciária!
Colocou algemas na vítima: o homem que recebera os mil contos do porteiro, em troca da promessa de vender o Audi A3.
O indivíduo foi enfiado no Mercedes do bombeiro.
A partir daí, quem comandou as operações foi o porteiro da discoteca.
O resultado foi desastroso, para ele.
O tal vendedor do Audi disse-lhe que lhe iria devolver o dinheiro.
No entanto, foi mas é avisar a polícia.