quarta-feira
EXPERIMENTAR O CARRO
A cena foi mesmo insólita.
Para quem conhece os stands da Renault, é mais fácil de conceber o que aconteceu.
No exterior, junto ao parque de estacionamento, de forma bem visível, encontram-se expostas as viaturas usadas, para venda.
Por forma a despertar melhor a atenção, junto a cada uma delas, está uma bandeira. O respectivo pau assenta numa base relativamente pequena. Com o vento, facilmente seria derrubado. De modo que essa base fica por debaixo de uma das rodas do carro. Assim, a bandeira e o respectivo pau ficam presos, sem qualquer hipótese de se soltarem.
Um casal deslocou-se a um desses stands.
Os dois manifestaram logo interesse em adquirir um Clio cinzento metalizado, que se encontrava em exposição, naquele espaço destinado aos automóveis em segunda mão. Nenhum outro carro lhes interessava.
Mas afirmaram querer experimentá-lo.
O vendedor disse-lhes para entraram no habitáculo, ocupando os lugares da frente. Ele seguiria no banco traseiro.
No entanto, recorde-se um pormenor.
Por debaixo da roda dianteira, do lado direito, encontrava-se o suporte da tal bandeira publicitária. Cabia ao vendedor removê-la e pousá-la, por forma a evitar que viesse a tombar quando o veículo deixasse de exercer pressão.
De modo que ele explicou como iria proceder. O cliente retiraria o automóvel, enquanto o vendedor segurava no pau da bandeira, até que o pneu deixasse de se encontrar sobre a base. Depois, a bandeira seria guardada e o vendedor entraria na viatura, acompanhando o casal no test drive.
O vendedor lá segurou na bandeira, dizendo:
- Vá tirando o carro enquanto eu agarro na bandeira!
O cliente colocou o motor em marcha e arrancou, a alta velocidade, com a companheira a seu lado. Já era seu o carro.
Os colegas do vendedor assistiram ao episódio e ficaram boquiabertos.
O indivíduo permanecia agarrado ao pau da bandeira, quando já tinha perdido o automóvel de vista. Estava absolutamente incrédulo.
Bem… estimava-se que, mais tarde ou mais cedo, o veículo seria recuperado. Feita a queixa à polícia, foi lançado o alerta nacional. Seria demasiado arriscado os gatunos continuarem a utilizar o automóvel.
Mesmo que tivesse uma matrícula falsa, sem documentos, era improvável que a viatura pudesse manter-se em circulação durante muito tempo.
O mais natural era que viesse a ser abandonada num local qualquer.
Todavia, o tempo foi passando sem que o automóvel surgisse.
Até que, um dia, aquele mesmo casal foi capturado a realizar um assalto. Faziam-se transportar no tal Renault Clio, desaparecido há tanto tempo.
Foi então que tudo se esclareceu.
Uns tempos antes de terem dado aquele golpe de levarem o veículo no momento do test drive, eles tinham estado num outro concessionário da mesma marca.
Adquiriram um Clio cizento, dando uma entrada mínima. Ficaram de pagar o restante em prestações. Mas não liquidaram nem uma delas.
A entidade financiadora procedeu à recolha do automóvel, mas os compradores nunca chegaram a entregar os respectivos documentos. Ficaram na posse do livrete e do título de registo da propriedade.
De seguida, foram à procura de um outro stand onde houvesse um carro igualzinho.
Lá o levaram, naquelas singulares circunstâncias.
Depois, foram a um estabelecimento especializado mandar fazer chapas de matrícula, com o número do primeiro carro: o tal cujas prestações não tinham pago. Para tanto, exibiram os documentos que tinham em seu poder. Não levantaram suspeitas.
A questão é que, relativamente a essa matrícula, a polícia não procurava o veículo. Portanto, circulavam com o carro à vontade.
É raro inspeccionarem-se os números do motor ou do chassis.
Durante uns bons tempos, nas estradas nacionais circularam dois carros idênticos, com a mesma matrícula.