quinta-feira
OPTIMISTA
É anunciado como “o filme mais optimista de 2008”. Estreou no dia 3 de Janeiro e é patrocinado por uma marca de refrigerantes. O seu título é “A Fábrica da Felicidade”.
Realmente, deve ser mesmo uma película muito optimista.
Ainda agora o ano começou, há várias estreias por efectuar e muitos filmes irão ser realizados. Este já se considera o melhor na categoria do optimismo.
Este tipo de vocábulos é de uso frequente por nós, juízes, nas sentenças.
Quando eu considero o arguido como culpado, muitas vezes, tenho de apreciar se é possível ser optimista ou não quanto a ele.
Caso julgue que, efectivamente, é impossível alguma espécie de optimismo, fica fora de questão uma pena suspensa ou um curto período na cadeia.
Pelo contrário, se for possível formular um juízo de prognose optimista, nalgumas situações nem se justificará enviar o arguido para a prisão. Bastará uma pena suspensa, que apenas será cumprida, caso haja nova infracção.
Um caso curioso de optimismo é o de um indivíduo que passou longos anos em várias cadeias francesas. Faleceu, já idoso, num convento, na sua qualidade de monge.
Como é típico nestas conversões radicais, nasceu com um nome e morreu com outro. Veio ao mundo em 1917, com a graça de Jean Bernier. Na sua vida monástica, adoptou o nome Grégoire.
Oriundo de uma família modesta, mas honrada, nada fazia prever que o pequeno Jean passasse a maior parte da sua juventude encarcerado.
Alistou-se na Força Aérea Francesa, que dava os seus primeiros passos, numa fase anterior à segunda guerra mundial.
Mas, logo no meio militar, mostrou sinais de inadaptação e esteve detido, durante diversas ocasiões. Em 1940, chegou mesmo a empreender uma fuga, que foi bem sucedida.
Com a submissão da França à Alemanha, no decurso do conflito mundial, Bernier acabou beneficiado. Ficou liberto do serviço militar e da sanção que tinha a cumprir.
No entanto, como não quis levar uma vida honesta, dedicou-se a explorar uma prostituta.
Acabou preso. Conheceu as agruras das prisões nazis e dos trabalhos forçados, na Alemanha Nazi, para onde foi deportado.
Libertado com a capitulação germânica, Jean Bernier não tardou a ser condenado, na sua França Natal. Desta feita, por contrabando de tabaco.
Cumprida a pena na temível Ilha da Ré, decidiu aí pôr termo à sua vida de criminoso. Ingressou no Convento de Santa Maria do Deserto, como Irmão Grégoire.
A fantástica história de reabilitação deste homem encontra-se relatada no livro “O Bom Ladrão”, de Robert Masson.