segunda-feira

NÃO HÁ CRISE



Nunca efectuei nenhuma viagem através da Ryanair.
Todavia, só posso ter simpatia por esta companhia de aviação.
Quanto às passagens, os preços praticados são baixíssimos.
Até sou amigo de um piloto ao serviço da empresa. Ele tem o privilégio de morar no condomínio de Santo Estêvão. É um verdadeiro bon vivant, que encara com enorme entusiasmo comandar as aeronaves que permitem efectuar transportes a custos tão reduzidos.
Agora, com efeito, são surpreendentes algumas notícias recentes. Desconheço se corresponderão à realidade.
Por sugestão de passageiros convidados a apresentar recomendações com vista à redução de despesas, parece que a companhia consideraria passar a cobrar as idas à casa-de-banho.
Pior ainda: as máscaras de oxigénio implicariam a liquidação de um certo montante.
Não creio que tal venha alguma vez a acontecer.

ATÉ OS PRESOS
As próprias carrinhas celulares, para transporte de presos, dispõem de sanita. De uso gratuito, obviamente.
Existe mesmo um autocarro celular, para remoção de reclusos entre estabelecimentos prisionais. Este veículo conta com instalações sanitárias completas, dotadas de lavatório.


O BISPO AFLITO
Imagine-se agora o que sucedeu com o Bispo D. Manuel Franklin da Costa, em Angola, nos idos de 1975.
A Diamang era das mais importantes empresas, senão a maior. Possuía uma vasta frota de aviões. Estes eram não só utilizados pelos funcionários da empresa e para transporte de carga. Ocasionalmente, eram também disponibilizados em serviços de cortesia.
À época, era alto funcionário da companhia Américo Cardoso Botelho, autor do interessante livro “Holocausto em Angola”, onde se relata uma curiosa história verídica.
Botelho preparara um Skyvan, dotado de uma tripulação de dois pilotos, com um único objectivo: transportar o Bispo, desde Luanda para o Dundo, onde o prelado foi recebido com grande alegria da população local.
Em princípio, os passageiros seriam apenas o clérigo e o próprio Américo Botelho.
Sucede que um grupo de dezoito empregados da empresa aguardava, no aeroporto, uma outra aeronave, com o mesmo destino. Mas esta tardava em chegar.
Pedida licença a D. Manuel Franklin da Costa, este acedeu a que aqueles passageiros se juntassem ao seu voo.
Eram quatro horas de viagem.
A dada altura, o Bispo dirigiu-se a Américo Botelho e perguntou-lhe onde se situavam as instalações sanitárias.
Pois não era que o Skyvan era completamente desprovido de casa-de-banho?!?! Aquilo nem a pagar…
D. Manuel não estava em condições de aguardar pela aterragem, no destino. Era um caso urgente, de grande aflição.
Américo Botelho lá teve de arranjar uma solução de improviso.
De entre aqueles dezoito colegas seus, quem teria por ali um saco de plástico?
Uma senhora fazia-se acompanhar de um saco, onde carregava uma série de pequenos haveres pessoais. Sem ter para onde os transferir, lá esvaziou o saco de plástico, deixando para depois a preocupação de os colocar em qualquer sítio.
Na traseira da aeronave, o Bispo lá se aliviou. Regressou com boa disposição e comentou: “este avião só está preparado para transportar anjos!”.