segunda-feira
CARLOS CASTRO NA PRISÃO
É impressionante o modo bárbaro como Carlos Castro foi morto. O respectivo assassino encontra-se detido.
Curiosamente, o cronista social também esteve preso, mas em condições muito menos favoráveis.
O próprio Carlos Castro contou o que sucedeu, na sua autobiografia, “Solidão Povoada”.
Tendo nascido em Angola, foi ali que cumpriu o serviço militar, em tempo de guerra.
A dada altura, o jovem soldado beneficiou de um período de férias. Aproveitou para visitar a irmã, que vivia em Sá da Bandeira, actual Lubango.
Acontece que, durante esta fase estival, Castro sofreu um acidente, que o impedia de se locomover.
Embarcou tardiamente no comboio que o transportou de volta ao quartel, em Luanda.
De imediato, encarceraram-no por ordem militar. Fora dado como desertor. Sem nunca ter sido ouvido por um juiz, o jovem foi metido numa cela com centena e meia de reclusos de toda a espécie. Alguns acusados de deserção, como ele. Mas outros, a cumprir pena por homicídio, violação ou roubo.
Foram meses horríveis.
Como é normal naqueles meios prisionais, um dos detidos assumia o papel de chefe da camarata. Logo na primeira noite, o líder apontou uma navalha de ponta-e-mola ao novato. Sujeitou-o a ser violentado por diversos prisioneiros, à vez. Gargalhadas ecoavam por toda a imunda cela, contrastando com as lágrimas que escorriam na face da vítima.
Este tratamento tornou-se uma prática quase diária, ao anoitecer.
Embora uma junta médica houvesse atestado a impossibilidade de o soldado ter viajado em data anterior, a data da sua libertação continuava a ser uma incerteza.
Finalmente, graças à sua irmã interceder por ele, colocaram Carlos Castro em liberdade, assim como fora detido. De um dia para o outro, sem qualquer mandado de um juiz.
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