segunda-feira

PENDÊNCIA DE HONRA



Pus-lhe um processo em cima”. A frase, relativamente vulgar, foi popularizada por Tony Silva, personagem incarnada por Herman José, nos anos 80.
Quando se tem um caso em tribunal, ainda não decidido, costuma-se dizer que a situação encontra-se em contencioso, há uma lide, verifica-se um litígio judicial, fez-se uma demanda, foi intentada uma acção ou existe um pleito.
Também é comum mencionar-se que há uma pendência.
Diferentes eram as pendências de honra. Tratavam-se de contendas geradas por ofensa à reputação de alguém. Geralmente, eram resolvidas mediante duelo. Em Portugal, a prática manteve-se até 1925, embora se revestisse de ilegalidade. Contudo, como havia acordo entre todos, raramente havia denúncias. Os litigantes, os padrinhos, as testemunhas e os médicos mantinham sigilo.
Um destes desafios encontra-se relatado numa obra de João Lobo Antunes, agora editada, cuja leitura vivamente recomendo. Trata-se da biografia de Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, pioneiro em Portugal a receber tal galardão.



ÁS DE ESPADAS


Egas foi também político, desde os tempos da monarquia. Desempenhou as funções de deputado antes e depois da implantação da República.
Já após a revolução, o médico proferiu um discurso no Parlamento, criticando duramente o Governo por tolerar o financiamento dos caminhos-de-ferro, com receitas obtidas em África.
Estava-se em Fevereiro de 1912.
Norton de Matos, militar de carreira, fora nomeado Governador-Geral de Angola. Sentiu-se afrontado com aquele ataque. Exigiu a Egas Moniz a reparação pelas armas.
O duelo teve lugar na Estrada da Ameixoeira. Os médicos presentes eram Sousa Júnior e Francisco Gentil. Este último, em 1923, veio a fundar o Instituto Português de Oncologia que ostenta hoje o seu nome. Era avô do prestigiado cirurgião António Gentil Martins.
Egas Moniz e Norton de Matos empunhavam espadas. Embora inicialmente ferido num sovaco, Egas atingiu o adversário no sobrolho. Terminou, então, o combate.
Posteriormente, o clínico e o general reconciliaram-se, até porque estavam unidos por laços de parentesco.