O Ministério da Justiça efetuou uma proposta para
enfrentar os crescentes furtos de cobre. A infração passaria a constituir crime
qualificado. Seria um delito público, que não careceria de queixa formal
apresentada pelo proprietário. A pena poderia atingir um máximo de cinco anos
de prisão.
Certamente, o objetivo é diminuir os assaltos para
apropriação de cobre.
Tudo se resolveria com a publicação de uma lei.
Eu tenho dúvidas.
Presumivelmente, a lógica da proposta corresponde à
prevenção geral. Dissuade-se a generalidade das pessoas de enveredar pelo furto
de cobre. Receosos com a nova legislação, os ladrões ponderam antes de
cometerem o crime. Muitos deles desistem. As estatísticas passarão a revelar
uma diminuição deste tipo de delitos.
Seria bom. Estima-se que a Rede Elétrica Nacional tenha
sofrido um prejuízo de 6 milhões de euros em dois anos.
CHEIOS DE MEDO
Não quero fazer previsões. Mas calculo que os gatunos
não fiquem lá muito atemorizados. Eles arriscam a pior das punições: a morte.
Mesmo assim, continuam a retirar cabos de alta tensão, podendo sofrer uma
eletrocussão fatal, o que por vezes sucede.
Na minha opinião, o combate ao furto de cobre deve ser
efetuado no terreno e não escrevendo novas leis. Deve-se atuar em duas
vertentes.
Em primeiro lugar, importa proceder a videovigilância
com controlo em tempo real. As câmaras devem ser colocadas nos postes de
distribuição e nas linhas ferroviárias.
Depois, há que abordar os recetadores, sobejamente
conhecidos. São alguns sucateiros desonestos, já perfeitamente identificados. É
fácil promover a sua prisão preventiva, a apreensão do material furtado e o
desmantelamento dos respetivos estaleiros.
SUCATA
Na década de 90, a tendência era o furto de alumínio.
Nas estradas, viam-se as enormes placas de sinalização, despojadas das diversas
barras, que eram facilmente removidas pelos ladrões. Transacionavam-nas aproximadamente por 500 escudos o quilograma. Os recetadores
procediam à revenda com uma enorme margem de lucro.
Já neste século, o negócio passou a ser o cobre. Os sucateiros
a quem falta integridade pagam cerca de 4 euros por quilo. No caso de serem
cabos elétricos revestidos, o preço baixa para cerca de um euro.
Nos mercados internacionais, a cotação do cobre aumenta
permanentemente.
O cobre é um excelente condutor de eletricidade. Como
não se fazem fios e cabos elétricos de prata ou ouro, o cobre é o ideal. A
China compra quase toda a matéria-prima disponível. As maiores barragens
hidroelétricas do mundo encontram-se nesse imenso país. O consumo de energia é
elevadíssimo, devido à proliferação de unidades industriais e à expansão
constante das grandes urbes.
O principal fornecedor é o Chile, onde se situa metade
das reservas mundiais deste minério. As exportações têm praticamente um único
destinatário: a República Popular da China.
De modo que a procura do metal aumentou, por toda a
parte.
UMA ABORDAGEM RADICAL
Na Coreia do Norte, a reação não podia ser mais
drástica. Quem se apodera de cobre, é fuzilado.
Jun-Sang, um professor que conseguiu escapar para Seul,
descreve como assistiu horrorizado a uma execução pública.
Ele residia em Chongjin, a terceira maior cidade do
território a norte. Os moradores foram incentivados a deslocarem-se para um amplo
aterro, onde antes passava uma corrente de água. Curiosas, as crianças ocupavam
as primeiras filas, à frente de uma imensa multidão.
Havia mesas e cadeiras para o juiz, o procurador e o
advogado. Os altifalantes propagavam as declarações.
O réu encontrava-se acusado de ter subido a postes de
eletricidade, a fim de se apoderar do cobre.
O julgamento foi breve. O procurador terminou as suas
alegações, dizendo:
- O crime causou graves prejuízos a bens da nação. Foi um ato de traição que ajudou os inimigos do Estado socialista.
Ironicamente, os postes encontravam-se desativados. O país vivia um período de fraca produção de energia elétrica e o fornecimento cessara naquela zona.
- O crime causou graves prejuízos a bens da nação. Foi um ato de traição que ajudou os inimigos do Estado socialista.
Ironicamente, os postes encontravam-se desativados. O país vivia um período de fraca produção de energia elétrica e o fornecimento cessara naquela zona.
De seguida, o juiz decretou: “condeno o réu à morte,
sendo a execução levada a cabo de imediato”.
O homem foi amarrado a uma estaca de madeira. O pelotão
de fuzilamento atirou, de acordo com o previamente delineado. Três balas
atingiriam a cabeça do condenado. Depois, mais três deflagrações visariam o
tronco. As três últimas munições trespassariam as pernas, ao mesmo tempo que
rebentavam a corda que mantinha o indivíduo preso.
A cabeça estoirou e o sangue jorrou em todos os
sentidos. Findos os disparos, o corpo caiu sobre o solo.