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O CARRO DE LUÍS ANDRADE NUM ASSALTO




Aos 76 anos, morreu Luís Andrade, o mais conhecido realizador da televisão portuguesa. Por duas vezes, desempenhou o cargo de diretor de programas da RTP. Como todos sabem, a apresentadora Serenella Andrade é sua filha.
Logo após o 25 de Abril, uns intriguistas promoveram o seu saneamento da empresa. Luis Andrade era responsável pela filmagem das "Conversas em Família", de Marcello Caetano. Perguntaram-lhe se fazia ou não um esforço para que o Presidente do Conselho fosse captado em planos menos favoráveis, dando uma imagem negativa. O realizador foi sincero e disse que sempre efetuou o trabalho de modo profissional, sem boicotar a prestação de Caetano.
Foi afastado, até que oito meses depois, voltou, num reconhecimento de que o saneamento ultrapassava todos os limites.


O POSTO EMISSOR


Em 1980, algo de muito estranho sucedeu.
Tinha surgido o grupo terrorista denominado FP-25. Só foi desmantelado quatro anos depois, com a operação Orion, da qual resultaram muitas prisões. Foram capturados Otelo Saraiva de Carvalho, Mouta Liz, Humberto Machado e Pedro Goulart.
Pois logo no início dessa década, quando se estreavam os atentados, Luís Andrade foi abordado, à saída da RTP. Quatro homens apontaram-lhe pistolas e obrigaram-no a ocupar o assento traseiro do seu próprio carro. A vítima entregou a chave e os cinco seguiram para fora de Lisboa.
O real objetivo daquele rapto ficou por esclarecer.
Se os bandidos queriam apenas ficar com o automóvel, teriam largado o seu proprietário. Na verdade, conversaram durante muito tempo com ele, colocando-lhe questões sobre a Radio Televisão Portuguesa.
Naquele momento, Luís Andrade ficou convencido que os criminosos pretendiam ter acesso a um posto emissor e ali colocar explosivos. Efetivamente, falaram do cartão de livre trânsito existente no veículo. O realizador deu uma desculpa, que parece ter suscitado alguma aceitação. Inventou que eram cartões substituídos semanalmente. Aquele já tinha caducado e ele ainda não solicitara o que respeitava à semana em curso.
Postas as coisas nestes termos, libertaram Luís Andrade. Mas ficaram-lhe com o automóvel.
Dias depois, ocorreram duas sangrentas tentativas de assalto a bancos, na Malveira, utilizando aquele carro. Ficou crivado de balas, num confronto com a GNR. Dois terroristas foram atingidos mortalmente e um transeunte perdeu também a vida, durante o tiroteio.
De tal forma marcado pela tragédia, Luís Andrade não quis reaver o veículo.