sexta-feira

NA CAMA DO HOSPITAL



Ele transporta doentes, faz as camas nas enfermarias, limpa as instalações e alerta os enfermeiros se algo de inesperado ocorrer.
Não trabalha num hospital qualquer. Os pacientes não vão para casa quando têm alta. Regressam à cadeia onde cumprem pena. Trata-se do único hospital-prisão português, localizado em Caxias.
Aquele homem envolveu-se com uma reclusa, ali internada por razões psiquiátricas. A mulher engravidou e, ao que parece, diz querer abortar.
A questão é particularmente delicada, em duas vertentes.
Do ponto de vista laboral, é insustentável que o auxiliar continue a exercer funções naquele local.
Não importa se o indivíduo é funcionário público ou colaborador de uma empresa externa, como é o caso.



VANTAGEM

Não pode haver este tipo de relacionamento com doentes internados em unidades hospitalares.
De igual modo, nas prisões, é inadmissível que tal aconteça. Recorde-se o caso de Florent Gonçalves, o diretor da cadeia de Versalhes, em Paris. Manteve um affaire extra-conjugal com uma jovem de 21 anos, a cumprir pena por cumplicidade num homicídio.
Qualquer paciente internado encontra-se em condições especialmente vulneráveis. O mesmo sucede com os prisioneiros. As pessoas que trabalham nas respetivas instituições estão colocadas numa posição de vantagem.
Qualquer aproximação é intolerável, seja de quem tiver partido a iniciativa. Os contactos sexuais impõem o afastamento do trabalhador que se envolve com o utente.
Quando está em causa alguém que é simultaneamente recluso e paciente, os problemas duplicam-se.


FRAGILIZADA

Depois, suscita-se a questão mais delicada. Há que determinar se há crime ou não. Na afirmativa, o infrator sujeita-se a pena que vai até oito anos.
O ponto consiste em apurar se o funcionário que presta serviço na prisão aproveitou-se ou não das suas funções.
Tal é esclarecido através de delimitação negativa. Ou seja, buscam-se circunstâncias que permitam concluir que aquela ligação sexual ocorreria sempre. De qualquer modo, o relacionamento teria lugar. Mesmo que a pessoa não estivesse fragilizada e que ao outro sujeito não lhe competisse, de certa forma, cuidar e guardar a primeira.
Para isso, importa verificar quem deu o primeiro passo, quem se abeirou inicialmente. Depois, é fundamental detetar eventuais elementos de manipulação por parte de um deles. Mais difícil é encontrar cartas e mensagens que evidenciem genuínos afetos.