terça-feira

RECOMPENSA



Na lei portuguesa, há duas normas importantes sobre objetos perdidos que são achados por terceiros.
O código penal estabelece uma sanção que vai até ao máximo de um ano de prisão para quem ilegitimamente se apropria de algo que encontra. Na prática, a regra é utilizada contra aqueles que se apoderam de quantias que, por engano, são creditadas nas suas contas bancárias. Serve também para viabilizar a condenação de quem revende algo furtado e defende-se dizendo que encontrou o bem abandonado na rua.
Até há cerca de um ano, segundo o código civil, quem restituía uma coisa extraviada ao seu proprietário, tinha direito a um prémio que oscilava entre 2,5% e 10% do respetivo valor. O regime favorecia sobretudo os pescadores que resgatavam bens à deriva no mar. Também poderia beneficiar os que devolviam bichos aos seus donos.
O diploma foi modificado por causa do estatuto jurídico dos animais. Atualmente, quem encontrar algum pertence ou um bicho, apenas é reembolsado das despesas que eventualmente tenha efetuado. A tendência é para considerar que a entrega do animal não deve constituir forma de obter lucros e que o dono não deve ser penalizado com gastos. A mesma disciplina aplica-se aos objetos.



GESTOS

Por duas vezes, eu perdi óculos escuros que nunca reouve.
Mas, de um modo geral, conheço vários casos em que os esforços para reencaminhar algo dévio foram mais significativos do que se poderia esperar.
aqui relatei como, há mais de uma década, uma alma anónima adotou o lindo gesto de não deixar que um postal ficasse abandonado.
contei também como recuperei uma dispendiosa consola de jogos.



CAFÉ

Pois há dias, eu estava às compras no shopping Vasco da Gama, em Lisboa. Na zona da restauração, larguei um saco com 100 cápsulas de café e só dei pela sua falta quando cheguei a casa.
Dois dias passados, telefonou-me uma funcionária da loja Nespresso. Um cliente do centro comercial confiou a embalagem a um vigilante. Este foi depositá-la ao estabelecimento de origem. Como o talão com o meu nome se encontrava junto da mercadoria adquirida, bastou um telefonema para me levar ao conhecimento da existência destes três honestos cidadãos.



MOLESKINE

Uns tempos antes, ali bem pertinho, num posto de abastecimento de combustíveis, eu deixara esquecida a minha carteira. Antes de ter verificado que ela lá ficara, já estavam a entrar em contacto comigo.
Ao descrever estes episódios em família, facilmente concluí que não são casos isolados de seriedade. Seguiram-se narrações análogas.
Com um dos meus sobrinhos, passou-se algo bem interessante.
Em Londres, apartou-se de um bloco de notas Moleskine, igual aos celebrizados por Ernest Hemingway. Continha imensos apontamentos, impossíveis de reconstituir.
Regressado a casa em Portugal, teve uma agradabilíssima surpresa. Um desconhecido gastou o seu tempo e dinheiro. Por via postal, remeteu o caderno ao seu possuidor, cujo endereço ali constava.