quarta-feira

SOBREVIVER A UM ATENTADO TERRORISTA



França nunca esteve imune a atentados terroristas. Nalguns casos, o visado foi o Chefe de Estado.
Em 1962, o Presidente De Gaulle continuava a gozar de enorme popularidade, mas alguns setores mais radicais queriam vingar-se da concessão de independência à Argélia.
Doze homens munidos de armas militares propuseram-se disparar a matar contra o general enquanto ele viajava num Citröen DS, acompanhado de sua mulher, em direção a uma base aérea onde um avião os esperava.
O ataque fora minuciosamente preparado por um coronel da Força Aérea, Jean Bastien-Thiry.


DISPAROS


187 balas foram cuspidas. O óculo traseiro do automóvel quebrou-se e a chapa ficou crivada de projéteis.
O político e a primeira-dama escaparam, graças a terem baixado a cabeça atempadamente, aguardando que a saraivada terminasse, por força da contra-ofensiva de numerosos guarda-costas.



“NÃO É POR MIM”

O antigo herói da resistência gaulesa ficou furioso.
Alguns jornalistas questionavam-se se seria razoável uma cólera tão patente, exuberantemente manifestada por um homem da guerra, com um passado brilhante, firmado sobretudo na campanha de França contra os nazis em 1940.
Charles De Gaulle apercebeu-se de que talvez tivesse exibido uma reação exagerada, dando a impressão de que ficara assustadíssimo.
Procurou esclarecer a razão da exaltação. Mas fê-lo de modo pouco hábil.
Explicou que tudo aquilo só lhe causara perturbação por causa de Yvonne se encontrar junto a si no assento traseiro da viatura. Como quem diz “não é por mim”.




GELATINA DE FRANGO

A verdade é que a primeira-dama não deu mostras de grande abalo, ao sentir a sua vida em perigo.
Ela tinha passado pela Fauchon, a prestigiada loja parisiense de produtos alimentares gourmet. Aí adquiriu poulets en gelée, a gelatina de frango que efetivamente veio a servir-lhe de jantar após a emoção do atentado frustrado.
As compras ficaram acondicionadas no porta-bagagens da viatura oficial, que veio a ser interceptada pelos criminosos.
Quando se deu a abordagem terrorista, o coronel Alain de Boissieu, genro do casal presidencial e ajudante-de-campo, disse aos sogros para se baixarem.
Findo o tiroteio, Yvonne e Charles ergueram a cabeça. A primeira-dama demonstrou qual era a sua principal preocupação, dizendo:
- Espero que a gelatina de frango não tenha sido atingida.