segunda-feira

OS UTENTES DAS ESQUADRAS




Existe uma nova geração de agentes policiais, bem instruídos e sensibilizados para o serviço ao público.
Ainda assim, nalguns casos, o atendimento deixa a desejar.
Um famoso profissional de televisão com mais de quarenta anos de actividade profissional não chegou a lançar outro livro de sua autoria, no decorrer de 2004, pois viria a falecer.
Há dois anos atrás, ele publicou as suas memórias de uma vida passada entre a RTP, uma estadia no continente americano e o regresso à televisão nacional. Isto para não mencionar o seu desempenho na rádio e como actor, mais recentemente.
Agora, vai dar à estampa uma série de interessantíssimas crónicas.
Uma delas é subordinada ao tema dos medicamentos e do atendimento nas farmácias.
Certa vez, eu debati a questão com Ernâni Lopes, antigo Ministro das Finanças. Eu disse que a minha experiência de assistência hospitalar é geralmente positiva. Mas queixei-me da falta de farmácias e das limitações impostas quanto aos seus horários de funcionamento.
O economista afirmou que discordava de mim em toda a linha. Em primeiro lugar, considerou que haveria muito a melhorar nos hospitais. Depois, disse que o serviço farmacêutico é das melhores coisas que temos no país.
Hoje, reconheço razão ao meu interlocutor.
Em matéria hospitalar, limito-me praticamente a duas unidades inseridas no sector privado, com um elevadíssimo nível de qualidade. Pouco conheço do que se passa noutros locais.
Relativamente às farmácias, realmente é difícil encontrar um serviço mais eficiente. É claro que os horários não deveriam ser tão limitados. Obviamente, deveria haver mais estabelecimentos. Mas em relação aos existentes, o atendimento é efectivamente do melhor que se pode imaginar.
Voltemos às crónicas que irão ser publicadas pelo tal prestigiado apresentador de televisão. Faz uma comparação entre o cliente de uma farmácia e o utente de uma esquadra da Polícia de Segurança Pública.
Junto à sua casa, situa-se uma farmácia onde avia as suas receitas. A pessoa que o atende regista no computador os medicamentos a fornecer. De imediato, um robot transporta as embalagens desde a cave até ao balcão.
Em contrapartida, há pouco tempo, este admirável profissional dirigiu-se a uma esquadra da PSP.
Não penso que ele mereça tratamento especial por ser uma vedeta televisiva. Mas impõe-se um mínimo de educação relativamente a qualquer utente.
O agente que o recebeu perguntou:
- O que é que Você quer?
O visado pensou que queria um pouco de delicadeza e que, pelo menos, se lhe dirigissem por “senhor”.
O famoso locutor conclui na crónica: para faltas de educação destas, não há remédio ou medicamento que valha.
Em todas as esquadras deveria existir um exemplar do livro “Tento na Língua”, de António Marques. O capítulo 167 intitula-se: “Você é estrebaria?!”. É importante que os polícias aprendam Inglês com vista ao Euro 2004, mas não se pode olvidar a língua pátria.
Pior sucedeu a um familiar daquele profissional de televisão. Um seu sobrinho vive nos Estados Unidos da América. É administrador de uma importante empresa do sector financeiro. Encontrava-se de férias em Lisboa. Junto às Amoreiras, assistiu a uma altercação entre dois automobilistas, que chegaram a vias de facto.
De imediato, dirigiu-se à esquadra. Explicou o que se passava, pedindo auxílio. O agente com quem falou perguntou-lhe:
- É alguma coisa consigo?
O queixoso explicou que se tratava de uma questão de ordem pública.
Como resposta, obteve a mesma questão:
- É alguma coisa consigo?
E foi mandado embora.