quinta-feira

A BICICLETA ROUBADA




“Eu trato disso”.
Foi assim que o patrão descansou o empregado. O coitado era um humilde pedreiro a quem tinham roubado a bicicleta. Era daquela maneira que ele se deslocava para o emprego.
O empregador era modesto construtor civil, com pouca instrução e certamente pouco confiante nas autoridades. Resolveu fazer justiça pelas próprias mãos.
Realizou as suas investigações e convenceu-se de que o ladrão tinha sido um jovem com uma certa deficiência mental. Foi interrogá-lo. O suspeito negou a autoria do crime.
Mas o investigador continuava a insistir e até já calculava onde se encontraria o velocípede: na Quinta da Alorna.
Apontou uma arma de fogo ao jovem e obrigou-o a entrar no seu automóvel. Seguiram até à propriedade. Aí disse ao rapaz para procurar a bicicleta e entregá-la. A resposta foi a mesma de sempre. Ele desconhecia onde se encontrava o objecto furtado.
A ameaça com a caçadeira acentuou-se. O jovem começou a sentir muito medo. Desatou a fugir.
Foi atingido pelas costas e caiu.
O atirador meteu-se dentro do carro e desapareceu.
Felizmente, a vítima não morreu. A custo, conseguiu levantar-se. Já estava a escurecer. Era quase certo que não conseguiria ser salvo.
Mas um homem que por ali passava viu-o e conduziu-o ao hospital.
Duas vidas em complicações.
O deficiente mental que quase ia morrendo e viveu os piores momentos que já poderia imaginar.
O voluntarioso patrão que ao armar-se em detective particular deu em criminoso.
Sem vantagem nenhuma para o pedreiro que ficou para sempre sem a sua bicicleta.
As intervenções populares na defesa da criminalidade raramente são bem sucedidas.
As milícias populares surgidas na década de 90 mostraram que uma ofensiva contra traficantes de droga e outros marginais era ineficaz e contraproducente.


CÂMARAS

Já a vigilância vídeo tão em voga em Inglaterra tem-se revelado útil.
Há cidades onde as câmaras se encontram espalhadas por todo o lado. Na central, os monitores são controlados por vigilantes. Têm total controlo sobre cada uma das câmaras. Podem movimentá-la no sentido que pretenderem e fazer os close-ups que forem necessários. Dão sinal de alarme ao mínimo gesto criminoso.
É claro que onde há vídeovigilância, a criminalidade sofreu reduções acentuadíssimas. Os ladrões acham preferível irem para outro lado.
Algumas vozes críticas põem em causa o respeito pela privacidade de cada um. É tudo feito no pressuposto da confidencialidade guardada pelos vigilantes. Mas um passeio com uma amante pode ser comentado por uma quantidade de pessoas se for cometida uma indiscrição.
Em Portugal, a vídeovigilância existe em pequena escala, sobretudo nos centros comerciais.
Tem essencialmente em vista a defesa de crimes contra o património: furtos ou roubos.
Há dias, comprei uma nova Playstation para as minhas filhas. Sentei-me numa das mesas do centro comercial enquanto tomava o café. À minha frente, pousei um grande saco, onde se encontrava a consola de jogos.
Levantei-me e esqueci-me completamente de levar o saco. Dirigi-me a uma loja, onde acabei por não comprar nada. De seguida, fui ao Multibanco.
Só depois, recordei-me da Playstation. Dirigi-me à mesa onde antes estivera, já sem esperança de encontrar o saco.
Mas ele ainda lá estava.
Os centros comerciais são efectivamente locais pouco atraentes para ladrões. Fica tudo gravado.