quinta-feira
ERRO JUDICIÁRIO
Ele foi queixar-se à polícia do desaparecimento da sua mulher e da sua filha de treze meses de idade. Acabou preso, acusado de assassinar as duas.
O caso ocorreu em Inglaterra, em 1949.
Ou Timothy Evans era um monstro ou então estava a viver um enorme pesadelo. Não só perdera os seus entes mais queridos como agora se encontrava na cadeia, por as matar.
Hoje, sabe-se a verdade. Foi o vizinho do rés-do-chão que matou as duas.
Mas a notícia surgiu tarde demais. Em 9 de Março de 1950, Evans foi enforcado, após ter sido condenado à morte pelo juiz Lewis.
Sucede que eles moravam todos num prédio de pequenos apartamentos arrendados, em Merthyr Vale.
A família Evans ocupava o primeiro andar.
No rés-do-chão, morava John Christie.
Em 1953, este mudou-se e um novo inquilino foi viver para a mesma casa. Encontrou três cadáveres soterrados na cozinha.
John acabou por confessar ter sido ele a matar a mulher e a filha de Timothy Evans.
Ele era um tarado que, ao longo de anos, tinha morto dez pessoas.
John foi condenado à morte poucos meses depois. O seu enforcamento ocorreu no mesmo local onde fora executado Timothy.
No passado dia 17 de Novembro, dois juízes da Câmara dos Lordes reconheceram a inocência de Evans, numa declaração formal. Já em 1966, a rainha tinha-lhe concedido um perdão póstumo.
A primeira vez que eu tomei contacto com o caso de Timothy Evans foi durante umas férias nas Filipinas, há mais de uma década atrás. Na National Bookstore de Manila comprei alguns livros para os consumir mais tarde na praia, no Mindoro.
Entre eles, contava-se Miscarriages of Justice (Erros Judiciários) de Bob Woffinden. O autor é um conhecido jornalista que se iniciou na área musical. Acabou por ganhar interesse naquela matéria desde que, em 1985, publicou uma série de reportagens sobre mulheres inocentes em cadeias do Reino Unido.
O erro sobre Timothy é apenas um entre vários que demonstram a capacidade de o sistema britânico de admitir os seus enganos.
Por vezes, a pressa em encontrar os autores de um crime é inimiga da perfeição e pode levar a que a investigação seja mal conduzida. Nas acções com maior impacto na opinião pública, esta urgência é particularmente sentida.
É o que sucede com o terrorismo.
Todos desejamos ver os terroristas devidamente punidos.
Mas devemos sempre ter presentes as palavras do deputado inglês Sir John Biggs Davison: “na justa luta contra o terrorismo, a nossa causa fica viciada se não fizermos tudo para que a espada e a balança da justiça permaneçam impolutas”.
Ele fez esta afirmação em 1980 e tinha em mente o IRA da Irlanda. Mantém-se actual.