quinta-feira

JÁ AGORA




Um dos melhores desempenhos do actor Peter Falk deu-se na série televisiva Columbo. O autor dos crimes acabava sempre por ser desvendado. O protagonista era o tenente que vestia uma gabardina sebosa. No final das conversas que mantinha com os suspeitos, tinha por hábito voltar atrás e dizer: “by the way…”. Já agora, aproveitava para colocar mais uma questão. Muitas vezes, era aí que o homicida acabava por dar um passo em falso.
É claro que se tratava de ficção. As técnicas de interrogatório não são aquelas que se vêm nos filmes. No entanto, o tenente Columbo tinha uma virtude. Por vezes, demonstrava uma grande ingenuidade. Fazia as pessoas repetirem a mesma coisa por outras palavras. E era assim que acabava por apanhar algumas mentiras.
Uma das vantagens de não mentir é precisamente a de não ter de usar a memória. Se eu disser sempre a minha idade real, não estou constantemente a recordar-me de qual o ano de nascimento que ando por aí a dizer como sendo aquele em que vim ao mundo. É mais fácil manter a coerência quando se fala verdade.



PERGUNTAS

Muitas vezes vale a pena gastar tempo com perguntas que parecem pouco importantes. Vão-se estabelecendo uma série de afirmações em relação às quais a pessoa já não pode voltar atrás.
Um armazém de madeiras andava a ser constantemente assaltado. Os ladrões faziam-se transportar numa carrinha de caixa fechada.
Talvez não se preocupassem muito com as câmaras de vigilância. Mas um guarda estava atento às imagens. O homem garantia que a viatura era de cor verde.
Todavia, o advogado de defesa fê-lo descrever todo o seu gabinete onde estavam os monitores de vigilância. Ele lá foi dizendo que cada televisor tinha imagens de quatro câmaras. E acabou por afirmar que as imagens eram a preto e branco. Logo nunca poderia garantir a cor exacta do veículo.
O marido disse que a mulher estava tão seriamente ferida que até tinha vergonha de sair à rua com a cara naquele estado. Mas esquecera-se que antes tinha afirmado que ela nem podia conduzir. Tinha de deslocar-se a pé.
O vizinho garantia que o inquilino do andar de baixo vivia lá permanentemente. Sabia tudo da vida do homem: onde trabalhava, que automóvel conduzia, que profissão tinha a esposa e de que clube era ele adepto. A surpresa veio quando ele disse uma coisa. Desconhecia se algum dos filhos do casal morava lá em casa.
O barbeiro encontrava-se à porta do seu estabelecimento. Observara todo o acidente.
O homem da motorizada ia distraído. Estava a olhar para o lado e desviou-se para a esquerda. Veio a embater com o carro que vinha de frente. Esse seguia na sua mão.
O barbeiro começou a descrever melhor a rua onde trabalhava.
Era uma maçada estarem sempre automóveis estacionados indevidamente ao longo da via e até mesmo em frente à sua barbearia. Era uma rua estreita, mas com dois sentidos. Só estacionavam do lado que o afectava a ele. O ligeiro teve de ultrapassar duas viaturas estacionadas. Invadiu a outra fila de trânsito, de sentido oposto, onde circulava o veículo de duas rodas.