sábado

NO HOSPITAL ANTES DO ACIDENTE




Leonardo tem 21 anos. Veio de Minas Gerais, no Brasil.
Durante meses, a família limitou-se a comer feijão com arroz. Ele conseguiu poupar o suficiente para pagar a viagem com destino a Portugal, onde já tinha emprego assegurado. Era mais um servente de pedreiro.
Logo na primeira semana de trabalho, ficou a conhecer como funcionam alguns estaleiros de empreiteiros sem escrúpulos.
Caiu-lhe uma peça em cima do pé, quase o esmagando. Mesmo após a intervenção cirúrgica, a diferença de altura entre as duas pernas é de dez centímetros.
Mas o patrão dele não é só um desleixado em matéria de segurança. Dinheiro empregue na protecção dos trabalhadores seria mal gasto.
Também é um homem poupado em matéria de seguros. Só os faz depois de os acidentes ocorrerem.
Após o sinistro, foi a correr buscar uma apólice, em nome do empregado. Eram onze da manhã. Depois, participou o acidente, dizendo que tinha ocorrido à tarde.
É claro que a burla não resultou.
O pobre do Leonardo lá permanecia internado no Hospital do Barreiro. Não se queixava muito. Apenas dizia:
- Eu estava no local errado, à hora errada.
Evidentemente, não era assim. Se as condições de trabalho fossem diferentes, o local era certo e a hora nunca seria errada.
No entanto, lá na unidade hospitalar, ocorreram uma série de coincidências. Acabaram por lhe ser favoráveis, no meio da adversidade.
Em primeiro lugar, foi muito bem acompanhado por duas assistentes sociais.
Depois, naquele mesmo hospital, deram entrada duas pessoas, com azares distintos.
Um era o meu companheiro rotário Carlos, habituado a lá ir, enquanto médico.
Dessa vez, chegou de ambulância, às portas da morte. Fora esfaqueado, sem piedade, em Alcochete.
Entrou, também nas urgências, a Rosarinho, mulher de um outro membro do Rotary Club.
Uns tempos antes, ela tinha fracturado a perna, enquanto fazia esqui.
Encontrava-se a recuperar e movimentava-se com dificuldade.
Ao atravessar a rua numa passadeira, foi atropelada. Não pôde escapar. Ficou com as duas pernas partidas...
Quando os dois já se encontravam melhor, ela foi, de cadeira de rodas, visitar o Carlos. Ele estava todo entubado, com uma crise anémica, devido à perda de sangue. Vivia à custa de soro.
Era perto do Carnaval e o médico paciente não perdeu a oportunidade de demonstrar o seu sentido de humor.
- Rosarinho, este ano, não precisamos de disfarces. Eu sou o aleijadinho e tu és a coxa.
A boa disposição acabou quando foram contactados pelas duas assistentes sociais.
Elas relataram o caso de Leonardo. Disseram que nenhuma entidade pública lhes podia valer num pedido importante.
O que o jovem mais queria era ver a sua mãe, que está no Brasil. Mas ela não tinha quaisquer possibilidades económicas para comprar a passagem.
A sugestão solidária foi a melhor:
-Escrevam uma carta ao Rotary Club do Barreiro.
Orgulho-me de pertencer a esta instituição.
Foi aprovado, por unanimidade, o pagamento da deslocação da senhora, a expensas do clube. O filho terá a mãe junto dele.
Quando o Leonardo tiver alta, já tem transporte assegurado para as sessões de fisioterapia.
Duas corporações de bombeiros e uma misericórdia, a quem oferecemos viaturas, prontificaram-se de imediato.
Vai contar também com assistência jurídica.