quinta-feira
MÃOS AO ALTO
Vila Franca de Xira está presente na História Pátria por variadíssimos motivos. Avulta a Vilafrancada.
Agora foi motivo para ficar nas histórias que se vão contando por todo o país.
Um agente imobiliário foi assaltar um banco. Ao puxar a culatra, a arma de fogo desfez-se em várias peças, que foram caindo para o chão.
Nada a que eu não tenha assistido.
Há dias, levei as minhas filhas a conhecer um depósito onde são guardadas as armas policiais e aquelas que são apreendidas a criminosos.
Da vez anterior em que lá tinha estado, um polícia fez uma demonstração. Ao municiar uma pistola, a mesma encravou. Depois, tentando fazer o mesmo com outra arma, saltou uma mola pelo ar e a pistola desconjuntou-se toda.
Estas pistolas dos ladrões nem sempre são das melhores…
Depois, a esta falta de qualidade do material alia-se muitas vezes a falta de habilidade do criminoso.
No Verão, durante uns dias, tenho de assegurar o serviço urgente de turno em vários tribunais.
Sempre que me encontro com colegas, por essas alturas, vamos relatando as nossas experiências de alguns dias de trabalho intenso, mas sempre com uma ou outra peripécia.
Certa vez, um juiz contou-me um caso mesmo insólito.
Tudo aquilo começava com algo de pouco compreensível.
Todos os dias, à mesma hora, a mesma funcionária da estação dos correios saía do local de trabalho. Dirigia-se ao banco, onde levava consideráveis somas em dinheiro, para ali ser depositado, na conta dos CTT. Segurança máxima, portanto.
É claro que a coisa não passava despercebida.
E disso deu conta um cidadão brasileiro, interessado em apoderar-se do conteúdo do envelope.
Lá arranjou, então, uma pistola.
Mas era um assalto ousado. Em plena via pública, à luz do dia e a hora de grande movimento.
Ele apontou a arma e recebeu o invólucro com as notas.
Inevitavelmente, surgiu o herói.
Um transeunte desarmou o criminoso.
Retirada a arma, o salvador não se deu por satisfeito.
Decidiu dar um enxerto de pancada ao ladrão, que ficou muito maltratado.
De tal maneira que teve de ser assistido no hospital.
Foi ali num primeiro andar que o assaltante descobriu que nem tudo estava perdido. Aproveitando um momento de distracção, saltou pela janela.
Ouviram-se logo uns gritos de dor. Partiu as duas pernas.
Quando foi conduzido ao tribunal, foi de cadeira de rodas. Estava cheio de ligaduras, mas pronto a ser interrogado e a explicar como tudo havia sucedido.
Aquilo era um grande mal-entendido.
Este pobre cidadão agora constituído arguido encontrava-se a passear na rua. Eis senão quando, efectivamente, a empregada dos correios foi assaltada por uma outra pessoa, que lhe apontou a arma.
Logo o roubo foi detectado pelo tal corajoso indivíduo que veio em socorro da vítima.
O criminoso desatou a correr e largou o envelope que tinha roubado. Lançou-o para o ar. Aquilo veio parar às mãos deste brasileiro, que assistia estupefacto ao desenrolar dos acontecimentos.
De repente, aproximou-se o transeunte salvador. Confundiu-o com o verdadeiro ladrão, que já se tinha posto em fuga.
Quanto à pistola, obviamente, a mesma não lhe pertencia. Com certeza, o dono era o tal corajoso defensor da empregada dos CTT.
Curiosamente, tratava-se de uma pistola de alarme.
Muitas das armas utilizadas pelos criminosos são pistolas bem capazes de matar, contrariamente a esta. Utilizam munições bem reais.
Todavia, já foram pistolas de alarme.
A questão é a seguinte.
O comércio de armas de defesa é altamente controlado, em Portugal.
Todas as pistolas têm números de série. O comprador é devidamente identificado pelo lojista. Depois, procede-se ao registo ou manifesto.
Sabe-se a quem pertence cada pistola.
Ora há indivíduos engenhocas especializados em comprar pistolas de alarme. Essas são de venda livre. Depois, adaptam-nas, utilizando um torno. Ficam prontas a disparar.
No mercado negro, vendem-nas por preços que variam entre os 250 e os 500 euros.