quinta-feira

UMA CADEIA MUITO FECHADA




Ele tem precisamente a minha idade.
Tal como eu, já viveu em vários pontos do país. Só que foi atrás das grades.
Levava uma vida honesta de pintor da construção civil.
Todavia, cedeu à tentação do dinheiro fácil.
Começou a vender heroína.
Quando se encontrava preso no Montijo, empreendeu uma aparatosa fuga. Mas foi capturado pouco depois. O golpe custou-lhe mais dez meses de cadeia.
Ele era um pequeno traficante. Não tomava drogas.
Contudo, na cadeia, iniciou-se no consumo e continuou a vender, desta feita no estabelecimento prisional.
Ainda há algumas pessoas – pouco instruídas e mal formadas – que pensam ser preferível fechar os olhos ao consumo de estupefacientes nas prisões. Dizem que, assim, os reclusos andam mais calmos e dão menos trabalho.
Entretanto, este caso singular tornou-se num “case study”.
É o exemplo vivo do detido para quem a liberdade condicional e as saídas precárias têm um efeito altamente negativo.
Pode ser benéfico autorizar que um preso vá passar o fim de semana a casa, em certas ocasiões. Ajuda a manter o contacto com a família, os amigos e o meio onde vive. Serve de prémio ao bom comportamento. A liberdade condicional também pode ser útil. Permite vigiar os primeiros tempos após o recluso sair da cadeia e mantê-lo condicionado, com a ameaça de que voltará à prisão, se não apresentar uma conduta adequada.
No caso deste delinquente, ele foi colocado em liberdade condicional e retomou logo o tráfico de estupefacientes.
Regressou à cadeia.
Pouco depois, foi-lhe concedida uma saída precária de três dias.
Gozou esse período na casa do irmão.
Ao quarto dia, deveria regressar à prisão.
Mas ele foi-se instalar na residência de um amigo. Esteve lá durante um mês e seis dias. Nunca saiu de casa.
Contudo, um dia sentiu fortes dores de barriga e foi ao hospital. Dali saiu para a cadeia.
Entrevistado por uma psicóloga, só disse coisas bizarras.
Sobre a prisão, afirmou que “é uma cadeia muito fechada, não temos nenhuma liberdade”. Era preferível ser muito aberta, não era? Deixava era de se chamar prisão.
Acrescentou que, “a nível de alimentação, isto está cada vez mais feio”. Mas, em casa do amigo, a coisa não deve ter sido assim tão bonita. A dor de barriga foi de tal ordem que ele foi parar ao hospital.
Ele prestou ainda um importante esclarecimento:
- Eu preferia não ter sido apanhado.
Olhe a grande novidade !...