Referi-me à biografia de Álvaro Cunhal, da autoria de Pacheco Pereira.
São volumes interessantíssimos, que abordam não só a vida do dirigente comunista como a de toda a história do seu partido.
Na obra, é relatado um misterioso crime de que foi vítima o alpiarcense Manuel Lopes Vital.
A 19 de Novembro de 1950, o “Diário de Lisboa” titulava: “Achado dum cadáver em condições misteriosas”.
O corpo tinha sido encontrado em Alcochete e jazia ao lado da bicicleta em que ele se fazia transportar. Apresentava sinais de dois tiros nas costas, um na cabeça e outro numa das mãos. O alvo mantinha o seu relógio de pulso, um relógio de algibeira e algum dinheiro.
O móbil do crime, não era, portanto, o roubo.
Vital era militante do PCP. Em 1945, tinha passado à clandestinidade e adoptou o pseudónimo de “Teixeira”. Tinha responsabilidades partidárias, mantendo algumas casas onde ficavam alojados camaradas seus procurados pela polícia política.
Cinco anos depois, os dirigentes partidários concluíram que ele desviava dinheiro pertencente à organização e que se tinha apropriado de bens do partido.
Por isso, deixou de ser funcionário e foi obrigado a deixar a sua condição de clandestino. Propuseram-lhe um determinado emprego, que ele recusou.
Todavia, pouco depois, Manuel Vital encontrava-se numa situação de desespero. Pedia emprego a toda a gente e solicitava dinheiro a conhecidos.
É neste contexto que ele surge assassinado.
Quer a Polícia Judiciária quer a PIDE pareciam acreditar que a vítima fora morta por correleginários do seu próprio partido.
À primeira vista, tal não faria muito sentido.
A doutrina marxista-leninista é avessa ao terrorismo e condena os assassinatos políticos. Não admite o homicídio de adversários políticos nem de antigos camaradas tidos como traidores. Lenine e Marx censuravam os anarquistas e os socialistas revolucionários russos, adeptos da prática de atentados terroristas.
Diferente foi, depois, a prática dos Gulag e da política stalinista de extermínio.
TRAIDORES
Não há, efectivamente, casos de homicídios contra militantes supostamente traidores, como medida de vingança, na história do PCP.
Essas situações surgiram, sim, após o 25 de Abril de 1974, no seio de agrupamentos terroristas de extrema-esquerda, como as FP-25 e o PRP-BR.
Mas o caso de Manuel Vital era muito especial.
Em grande aflição, após tentar, sem êxito, encontrar trabalho e arranjar dinheiro, Vital fez chegar uma carta ao Comité Local de Alpiarça. Lembrava que sabia muito sobre o partido e salientava precisar de ajuda.
Quem quer que o tivesse assassinado, terá tido em mente terminar com o perigo de ele efectuar denúncias à PIDE.
É bem provável que ele tenha sido morto por um comunista. De resto, os documentos de Vital foram encontrados na posse de Alcino Ferreira, controleiro do partido.
A PIDE tendia a pensar que o assassino fora Mário Mesquita, que integrava o Comité Central. O Ministério Público inclinava-se para pensar que o crime tinha sido praticado por um funcionário partidário, de nome Joaquim Rafael.Todavia, nunca foi feita prova relativamente ao responsável pelo assassinato.
A 19 de Novembro de 1950, o “Diário de Lisboa” titulava: “Achado dum cadáver em condições misteriosas”.
O corpo tinha sido encontrado em Alcochete e jazia ao lado da bicicleta em que ele se fazia transportar. Apresentava sinais de dois tiros nas costas, um na cabeça e outro numa das mãos. O alvo mantinha o seu relógio de pulso, um relógio de algibeira e algum dinheiro.
O móbil do crime, não era, portanto, o roubo.
Vital era militante do PCP. Em 1945, tinha passado à clandestinidade e adoptou o pseudónimo de “Teixeira”. Tinha responsabilidades partidárias, mantendo algumas casas onde ficavam alojados camaradas seus procurados pela polícia política.
Cinco anos depois, os dirigentes partidários concluíram que ele desviava dinheiro pertencente à organização e que se tinha apropriado de bens do partido.
Por isso, deixou de ser funcionário e foi obrigado a deixar a sua condição de clandestino. Propuseram-lhe um determinado emprego, que ele recusou.
Todavia, pouco depois, Manuel Vital encontrava-se numa situação de desespero. Pedia emprego a toda a gente e solicitava dinheiro a conhecidos.
É neste contexto que ele surge assassinado.
Quer a Polícia Judiciária quer a PIDE pareciam acreditar que a vítima fora morta por correleginários do seu próprio partido.
À primeira vista, tal não faria muito sentido.
A doutrina marxista-leninista é avessa ao terrorismo e condena os assassinatos políticos. Não admite o homicídio de adversários políticos nem de antigos camaradas tidos como traidores. Lenine e Marx censuravam os anarquistas e os socialistas revolucionários russos, adeptos da prática de atentados terroristas.
Diferente foi, depois, a prática dos Gulag e da política stalinista de extermínio.
TRAIDORES
Não há, efectivamente, casos de homicídios contra militantes supostamente traidores, como medida de vingança, na história do PCP.
Essas situações surgiram, sim, após o 25 de Abril de 1974, no seio de agrupamentos terroristas de extrema-esquerda, como as FP-25 e o PRP-BR.
Mas o caso de Manuel Vital era muito especial.
Em grande aflição, após tentar, sem êxito, encontrar trabalho e arranjar dinheiro, Vital fez chegar uma carta ao Comité Local de Alpiarça. Lembrava que sabia muito sobre o partido e salientava precisar de ajuda.
Quem quer que o tivesse assassinado, terá tido em mente terminar com o perigo de ele efectuar denúncias à PIDE.
É bem provável que ele tenha sido morto por um comunista. De resto, os documentos de Vital foram encontrados na posse de Alcino Ferreira, controleiro do partido.
A PIDE tendia a pensar que o assassino fora Mário Mesquita, que integrava o Comité Central. O Ministério Público inclinava-se para pensar que o crime tinha sido praticado por um funcionário partidário, de nome Joaquim Rafael.Todavia, nunca foi feita prova relativamente ao responsável pelo assassinato.