Não consigo imaginar o que significa estar preso.
Já visitei várias cadeias e, obviamente, conversei com muitos presos.
No entanto, é-me impossível calcular os sentimentos de quem se encontra privado da liberdade.
Ainda assim, estimo que alguns reclusos tenham uma postura de responsabilidade e assumam que o facto de cumprirem uma pena de prisão resulta do comportamento que adoptaram.
Esta será uma reacção possível de quem está atrás das grades, por ter cometido um crime.
Completamente diversa é a situação dos prisioneiros de guerra. Encontram-se num cenário consideravelmente mais adverso e, ainda por cima, apenas foram detidos por pertencerem ao exército oposto.
Alguns princípios regem a conduta destes prisioneiros.
No interrogatório, apenas são obrigados a indicar o nome, o posto, o seu número e a data de nascimento.
Em contrapartida, é desaconselhável que faltem à verdade, pois facilmente a mentira é detectada. É preferível remeterem-se ao silêncio, quanto a outras questões que lhes sejam colocadas.
Também não se preconiza que os prisioneiros de guerra adoptem uma postura hostil em relação aos captores.
Depois, é recomendado que tentem a fuga.
Naturalmente, estas regras são aplicáveis no pressuposto de que há respeito pela Convenção de Genebra, que impede maus-tratos.
Já visitei várias cadeias e, obviamente, conversei com muitos presos.
No entanto, é-me impossível calcular os sentimentos de quem se encontra privado da liberdade.
Ainda assim, estimo que alguns reclusos tenham uma postura de responsabilidade e assumam que o facto de cumprirem uma pena de prisão resulta do comportamento que adoptaram.
Esta será uma reacção possível de quem está atrás das grades, por ter cometido um crime.
Completamente diversa é a situação dos prisioneiros de guerra. Encontram-se num cenário consideravelmente mais adverso e, ainda por cima, apenas foram detidos por pertencerem ao exército oposto.
Alguns princípios regem a conduta destes prisioneiros.
No interrogatório, apenas são obrigados a indicar o nome, o posto, o seu número e a data de nascimento.
Em contrapartida, é desaconselhável que faltem à verdade, pois facilmente a mentira é detectada. É preferível remeterem-se ao silêncio, quanto a outras questões que lhes sejam colocadas.
Também não se preconiza que os prisioneiros de guerra adoptem uma postura hostil em relação aos captores.
Depois, é recomendado que tentem a fuga.
Naturalmente, estas regras são aplicáveis no pressuposto de que há respeito pela Convenção de Genebra, que impede maus-tratos.
Precisamente no dia em que meu irmão completava três anos de idade – tendo eu já feito quatro -, em 21 de Novembro de 1970, foi levada a cabo uma operação que visava libertar militares presos na Guiné, pelo P.A.I.G.C.
Tratou-se da Operação Mar Verde, que foi conduzida pelo Comandante Alpoim Calvão, à revelia do poder político. A manobra nunca chegou a ser reconhecida oficialmente pelo Estado Português.
Dez dias antes, António de Spínola escreveu ao Presidente do Conselho, dizendo que iria ocorrer um golpe de Estado e que os militares portugueses apoiá-lo-iam.
Na realidade, consistia numa operação exclusivamente organizada por portugueses.
Foi bem sucedida no que muito justamente era devido: o resgate de 16 jovens prisioneiros, que se encontravam há anos nas mãos do movimento independentista da Guiné-Bissau.
Falhou naquilo que seria uma tragédia, caso tivesse havido êxito. A operação tinha também como objectivo matar Sékou Touré, Presidente da República da Guiné-Conacri. Pretender-se-ia, posteriormente, entregar o poder desse país a homens que não apoiassem o PAIGC.
Se tal fosse alcançado, Spínola perderia toda a credibilidade. A ONU e a maior parte dos Estados não reconheceriam certamente o novo Governo de Guiné-Conacri. Esgotar-se-ia qualquer possibilidade de solução negocial, sendo militarmente impossível vencer os independentistas da Guiné-Bissau.
Durante anos, pouco se falou da Operação Mar Verde.
Em 1997, o jornal “Expresso” reuniu os antigos prisioneiros de guerra. Seis anos mais tarde, um deles – António Júlio Rosa – publicou as “Memórias de Um Prisioneiro de Guerra”. Há dois anos atrás, foi lançada a obra “Operação Mar Verde”, de António Luís Marinho.
Actualmente, sabe-se, com rigor, o que sucedeu.
Tudo começou com declarações prestadas pelo fuzileiro Alfaiate. No dia 18 de Fevereiro de 1968, em conjunto com outros dois camaradas, este militar deixou a tropa e uniu-se ao Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Mas, algum tempo depois, entregou-se ao exército português. Passou a ser conhecido como ex-desertor Alfaiate.
Explicou que os portugueses capturados encontravam-se em território da Guiné-Conacri. Numa folha de papel, desenhou um esboço da pequena cadeia, detalhando as quatro celas, as instalações dos guardas e o refeitório.
Assim, foi preparada a invasão, que permitiu a dezena e meia de jovens regressarem a Portugal. Não para se juntarem, de imediato, à família. Foram conduzidos para Oeiras e permaneceram em instalações controladas pela PIDE - a polícia política -, onde foram submetidos a constantes interrogatórios.
Actualmente, todos reconhecem que, apesar da dureza imposta pela privação da liberdade, nunca foram maltratados, tendo o PAIGC observado rigorosamente as disposições da Convenção de Genebra.
Aliás, três destes prisioneiros haviam-se evadido em Março de 1969, sendo recapturados poucos dias depois, sem que sofressem represálias.
Tratou-se da Operação Mar Verde, que foi conduzida pelo Comandante Alpoim Calvão, à revelia do poder político. A manobra nunca chegou a ser reconhecida oficialmente pelo Estado Português.
Dez dias antes, António de Spínola escreveu ao Presidente do Conselho, dizendo que iria ocorrer um golpe de Estado e que os militares portugueses apoiá-lo-iam.
Na realidade, consistia numa operação exclusivamente organizada por portugueses.
Foi bem sucedida no que muito justamente era devido: o resgate de 16 jovens prisioneiros, que se encontravam há anos nas mãos do movimento independentista da Guiné-Bissau.
Falhou naquilo que seria uma tragédia, caso tivesse havido êxito. A operação tinha também como objectivo matar Sékou Touré, Presidente da República da Guiné-Conacri. Pretender-se-ia, posteriormente, entregar o poder desse país a homens que não apoiassem o PAIGC.
Se tal fosse alcançado, Spínola perderia toda a credibilidade. A ONU e a maior parte dos Estados não reconheceriam certamente o novo Governo de Guiné-Conacri. Esgotar-se-ia qualquer possibilidade de solução negocial, sendo militarmente impossível vencer os independentistas da Guiné-Bissau.
Durante anos, pouco se falou da Operação Mar Verde.
Em 1997, o jornal “Expresso” reuniu os antigos prisioneiros de guerra. Seis anos mais tarde, um deles – António Júlio Rosa – publicou as “Memórias de Um Prisioneiro de Guerra”. Há dois anos atrás, foi lançada a obra “Operação Mar Verde”, de António Luís Marinho.
Actualmente, sabe-se, com rigor, o que sucedeu.
Tudo começou com declarações prestadas pelo fuzileiro Alfaiate. No dia 18 de Fevereiro de 1968, em conjunto com outros dois camaradas, este militar deixou a tropa e uniu-se ao Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Mas, algum tempo depois, entregou-se ao exército português. Passou a ser conhecido como ex-desertor Alfaiate.
Explicou que os portugueses capturados encontravam-se em território da Guiné-Conacri. Numa folha de papel, desenhou um esboço da pequena cadeia, detalhando as quatro celas, as instalações dos guardas e o refeitório.
Assim, foi preparada a invasão, que permitiu a dezena e meia de jovens regressarem a Portugal. Não para se juntarem, de imediato, à família. Foram conduzidos para Oeiras e permaneceram em instalações controladas pela PIDE - a polícia política -, onde foram submetidos a constantes interrogatórios.
Actualmente, todos reconhecem que, apesar da dureza imposta pela privação da liberdade, nunca foram maltratados, tendo o PAIGC observado rigorosamente as disposições da Convenção de Genebra.
Aliás, três destes prisioneiros haviam-se evadido em Março de 1969, sendo recapturados poucos dias depois, sem que sofressem represálias.