quarta-feira

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Nos locais de trabalho, todos têm um pouco de juiz.
Constantemente, julgam-se os subordinados. Por vezes até de modo formal, quando está em causa a avaliação de desempenho.
Todos têm opinião sobre os chefes. E não deixam de possuir algumas convicções quanto aos colegas.
Quando um novo elemento surge na organização, prontamente é escrutinado e objecto de apreciação.
Foi o que sucedeu no Dia D, em 1944: a data em que Heloísa Arruda desembarcou no centro Rio de Janeiro. Ela e os seus aliados no escritório assim baptizaram o primeiro dia em que iniciou funções no jornal carioca “Diário da Manhã”. Neste caso, “d” era a inicial de dactilógrafa.
Trata-se de ficção, criada pelo promissor escritor brasileiro Sérgio Bandeira de Mello, numa obra agora lançada em Portugal.
O título é bem sugestivo: “Um Júri Suspeito”.
Na redacção do “Diário da Manhã”, várias são as opiniões sobre a bem eficiente Helô, sempre dotada de grande espírito de iniciativa. No seio da intriga feminina, nem todas apreciam os decotes que a novata exibe e o modo como convive com membros do sexo oposto. Certamente, haverá também alguma inveja.
Heloísa, a acusada, vê-se rodeada de colegas que a julgam permanentemente. Sem dúvida, ela é a Ré.
Certa vez, até lhe é atirado à cara um veredicto sumário: vagabunda, é o que ela é mesmo.
Depois, há a Juíza Carlota, a Procuradora Rosa e uma série de juradas: Maria, Emengarda, Consuelo e Lourdes.
Claramente, está-se perante um cenário com o seu sentido figurado: algo de metafórico.


ASSASSINADA
Helô vem a ser barbaramente assassinada.
Daqui decorre uma bem urdida trama policial, cabendo ao Comissário Mesquita deslindar o caso.
Para nós, portugueses, é particularmente interessante o interrogatório a Carlota, que viveu em Portugal, até aos 21 anos de idade. As férias são habitualmente aqui passadas.
Não faltam referências ao seu ex-noivo, Fernando José. Homem abastado, dispõe de uma quinta na Póvoa de Varzim. Encontra-se com Carlota em Lisboa, onde fica alojado no Hotel l´Europe, à Praça Luís de Camões. Por vezes, toma as suas refeições no Jerónimo, em pleno Bairro Alto.
A edição portuguesa desta obra – que se lê de um fôlego, com enorme prazer – tem um bónus muito especial.
Encontra-se prefaciada pelo Embaixador Lauro Moreira, prestigiado homem de letras. Plurifacetado, notável divulgador cultural, é um Diplomata que muito dignamente representa o Brasil na CPLP.