segunda-feira

UMA BELA SONECA

Entre um sono profundo e encontrar-se perfeitamente desperto, há vários estádios intermédios. Frequentemente, experimentamos situações em que estamos “meio a dormir”, sonolentos e entorpecidos.
Tal ocorre amiúde na cama, antes de adormecer. Se tivermos alguém por perto, poderemos estar a manter um diálogo e sermos vencidos pelo sono. Entretanto, é provável que tenhamos proferido alguns disparates, quando nos encontrávamos naquela fase intermédia de modorra.
O mesmo sucederá igualmente, de manhã. Eventualmente, haverá até um momento em que não nos apercebemos bem se estamos a sonhar. Até atingirmos a espertina, verifica-se uma certa apatia.
A meio da noite, se algo nos fizer sair do sono, do mesmo modo, é possível viver momentos em que permanecemos soporosos, sem que nunca chegue a vigília completa. É o que acontecerá no caso de tocar o telefone ou a campainha. Tal circunstância surgirá ainda com um ruído mais forte, uma luz que se acende, movimentos estranhos, a necessidade de ir à casa-de-banho, o final de um pesadelo ou uma queda. Acordamos com pouca energia e regressamos ao descanso, sem termos passado por um despertar vigoroso.


PERIGOSO CROCODILO
Certa vez, passei por algo de insólito.
Eu ainda era casado. Acompanhado da minha mulher, visitei uns amigos, que possuíam uma pequena casa, em Canelas, no concelho de Estarreja.
Este simpático casal outrora tinha vivido em Moçambique. A sala de estar encontrava-se repleta de objectos decorativos, trazidos de África. Além de peças de artesanato, havia também um diminuto crocodilo, embalsamado, de boca semi-cerrada. Era a primeira vez que eu lá ia. Na minha mente, permaneceu a imagem do réptil, pousado sobre o chão.
Após o jantar, a minha mulher e eu deitámo-nos num amplo sofá-cama, localizado nessa mesma sala.
Num certo momento, sentindo vontade de urinar, levantei-me, para me dirigir às instalações sanitárias. O compartimento onde nos encontrávamos estava completamente às escuras. Eu não tinha levado chinelos e caminhava descalço. Seguia vagarosamente, não só porque nada via, mas também por me encontrar em estado de torpor, quase a dormir.
A dada altura, inadvertidamente, enfiei o pé na boca do crocodilo. Senti os dentes a cravarem-se na extremidade do meu membro inferior. Aflito, disse à minha mulher:
- Fui mordido!
Ao mesmo tempo, levantei o pé. Agitando-o, procurava ver-me livre do animal que me atacara.
Só passado algum tempo, me apercebi da bizarria em que eu estava envolvido…


QUANDO EU MORRI
Uma amiga minha deu à luz, mediante cesariana. Após o nascimento da criança, mas ainda na sala de recobro, ela começou a despertar, muito lentamente. Ouviu claramente alguém dizer:
- Levem a morta para o piso inferior.
Efectivamente, estas palavras foram proferidas, pois uma paciente havia perdido a vida. Não se tratava de imaginação da parturiente. Ela escutou aquela ordem, que realmente foi dada por um elemento do pessoal hospitalar.
O diabo é que esta minha amiga, naquela sua letargia, entendeu que se estavam a referir a ela própria. A morta era ela mesma. Tinha morrido e iam encaminhá-la para o piso inferior! Já imaginava como iria ser a vida do filho recém-nascido, órfão de mãe.