À minha frente, encontrava-se o arguido.
Anteriormente, ele tinha sido condenado, por um Colega, a pena de prisão suspensa. Se, durante dois anos, aquele homem não cometesse nenhum crime, o problema ficaria arrumado. Caso contrário, poderia ter de cumprir os dois anos de prisão, mais o que eventualmente resultasse da nova infracção.E, realmente, durante aquele período de suspensão, ele violou a lei novamente.
Cabia-me agora a mim decidir se revogaria a suspensão. Ou seja, se ele iria mesmo passar os dois anos na cadeia. Segundo a lei anterior, o processo era automático. Cometido novo crime, o condenado dava logo entrada na prisão. Actualmente, compete ao Juiz verificar se realmente se justifica o cumprimento da pena.
Consultei o registo criminal dele. No cadastro, constavam muitos delitos, mas todos eles de menor importância.
O homem aceitou falar sobre os antecedentes criminais, mas recusava-se a admiti-los. Talvez estivesse convencido que o seu passado o seu passado não figurava no registo.. Ou apenas se encontrava ele no habitual processo de negação.
Falei-lhe de um julgamento em Beja. Começou por dizer que nunca tinha estado nesse tribunal. Recordei a data. Seria, com certeza, no ano de 1994, julgo eu. Foi então que ele se viu forçado a conceder. Mas de um modo muito peculiar:
- Isso foi por causa do Benfica.
- Do Benfica?! – perguntei eu, admirado com a explicação dele. Nunca me tinha deparado com alguém que se justificava com um club de futebol.
Então, o cavalheiro explicou-se:
- Eu estava em casa de um primo. O Benfica tinha ganho o campeonato. Vim para a rua festejar.
Verifiquei que o crime consistia na utilização de arma de fogo sem licença.
- E festejou com uma caçadeira? – questionei.
- Foi sim, Senhor Dr. Juiz. Era o que o meu primo tinha lá em casa. Eu disparei uns tiros e apareceu a Guarda.