É chocante a perseguição feita ao Juiz espanhol Baltasar Garzón.
Trata-se de um corajoso homem, habituado a enfrentar os mais diversos perigos.Durante anos, o magistrado constou da lista de pessoas a abater pelo grupo terrorista ETA. A procuradora que com ele trabalhava, Carmen Tagle, foi assassinada, não obstante todas as medidas de segurança que a rodeavam. Apesar da profunda tristeza e revolta, Baltasar Garzón não abandonou a luta contra o terrorismo.
Entretanto, o Juiz decidiu que deveriam ser presentes perante a justiça os franquistas responsáveis pela morte, pelo desaparecimento e pela tortura de opositores. Sabia que estava a invadir um domínio extremamente delicado. Apesar disso, não recusou avançar.
É este o seu modo de actuar. Ele tinha conhecimento de que não merecia a concordância de todos. Estava perfeitamente ciente de que poderia pagar um elevado preço com semelhante postura.
Há cinco anos atrás, dizia Garzón: “Eu sou dinâmico e incisivo e gosto de ir mais longe do que a simples constatação. Prefiro levar a cabo as investigações pressionando e dirigindo os corpos e forças de segurança do Estado. Aos meus colegas não agradou o meu estilo e consideraram-me um revolucionário”.
Não se compara a outro tipo de juízes.
Afirma ele: “Não me agrada o juiz irascível, convencido, endeusado no seu próprio cargo. Nem aqueloutro que não tem relacionamento com os concidadãos, que não se mistura com o povo. Suponho que também não lhes agrado. Mas é coisa que pouco me interessa”.
Estas posições constam de um livro de sua autoria, intitulado “Un Mundo Sin Miedo”, cuja edição portuguesa foi publicada em 2006, pela Ambar. É uma obra interessantíssima. Grande parte dela é constituída por um diálogo com o seu filho Baltasar, que ele carinhosamente trata por Balti.
Esta atitude perante a profissão custou agora a Garzón um processo e a suspensão do cargo. Profunda injustiça, que descredibiliza o Estado espanhol, como defende a Amnistia Internacional.