São conhecidas as propriedades medicinais da cafeína.
Muitos recordam-se do poderoso Cafergot, recomendado para determinadas enxaquecas, mas também utilizado por estudantes nas vésperas de exames assim como por desportistas em busca de uma substância psicotrópica legal. Em diversos países, comercializa-se também o Vivarin.O Red Bull e outras bebidas energéticas contêm este alcalóide, que estimula o sistema nervoso central, sem efeitos secundários de monta, para a generalidade das pessoas.
A cafeína contida no Panadol Extra justifica o anúncio de que é “mais potente contra a dor”.
Acabo de ler algo sobre um interessantíssimo episódio em que um médico decidiu utilizar cafeína, com uma certa finalidade. Mas o clínico alcançou muito mais do que esperava. Como dizem os anglo-saxónicos, ele obteve “more than he bargained for”. Nesta situação, a surpresa foi bem agradável.
O caso vem relatado num livro que recomendo vivamente. Escrito por Rui Januário e André Figueira, aborda a temática da eutanásia. Tem como título “Homicídio a Pedido da Vítima” e é prefaciado por José António Barreiros.
Voltemos, então, ao doente a quem foi administrada cafeína.
Tratava-se de um homem internado em Lisboa. Encontrava-se inconsciente. Não se anteviam mais do que algumas horas de vida.
Uma das suas filhas vivia nos Estados Unidos. Para ela, foi um profundo choque saber que iria perder o progenitor.
Mesmo com sorte e uma boa conjugação das ligações aéreas, demoraria certamente mais de 24 horas até chegar à unidade onde o pai se encontrava hospitalizado.
A senhora pediu ao médico que fizesse tudo para lhe proporcionar a possibilidade de se despedir do enfermo, enquanto ele estivesse vivo.
Foi assim que o paciente recebeu uma dose de cafeína, na esperança de que tal permitisse prolongar-lhe um pouco mais a sua permanência entre os vivos.
O resultado foi arrebatador.
O sujeito recuperou a consciência, teve alta e continua entre nós.
Agora imagine-se se a filha não habitasse no continente americano. Caso ela vivesse em Torres Novas, em menos de um fósforo punha-se em Lisboa e já ninguém se lembrava da cafeína.
