É interessante o livro “As Últimas Horas de Carlos Castro”. Redigido por um amigo do cronista social, vai muito para além do que o título anuncia.
Designadamente, relata a viagem que o autor, Cláudio Montez, fez a Nova Iorque, após o bárbaro assassinato. Foi tratar das exéquias fúnebres, juntamente com duas irmãs da vítima, Amélia e Fernanda.Não obstante a tragédia, pelo menos importava satisfazer um desejo de Carlos Castro: que, após a morte, as suas cinzas fossem depositadas naquela cidade norte-americana.
Na obra, relata-se um curioso acontecimento, ocorrido na aeronave, que percorreu o Atlântico.
Montez apercebeu-se de que um indivíduo, com cerca de 60 anos, percorria o corredor de um lado para o outro. Era um português, que, a dada altura, abordou o autor do livro, perguntando-lhe:
- Trabalha em Nova Iorque?
Não desejando fornecer muitas informações, Cláudio Montez limitou-se a responder negativamente, acrescentando apenas que ia em passeio.
O interlocutor retorquiu, explicando que estava emigrado nos Estados Unidos. Era coveiro na cidade que não dorme.
Cláudio decidiu contar o verdadeiro motivo pelo qual ele e as duas senhoras faziam aquela viagem.
Foi muito importante, pois o amigo de Carlos Castro e as suas irmãs não possuíam nenhumas orientações quanto aos procedimentos necessários para tratar da cremação.
Afirma Montez: o senhor “ajudou-nos imenso e esclareceu-nos todas as dúvidas”.
Depois, elucida: “foi uma coincidência tão grande. Nem queria acreditar. São coincidências que nos fazem pensar”.
Eu tenho as minhas dúvidas sobre se terá sido assim um acaso, completamente fortuito.
Certamente, foi uma agradável circunstância o facto de, no avião, encontrar-se um coveiro. Mas duvido que a conversa tenha surgido por mera coincidência.
O crime teve uma cobertura mediática muito intensa. Naturalmente, vários passageiros comentaram que, na aeronave, se encontravam as irmãs do malogrado colunista. Atenta a sua profissão, é natural que o coveiro quisesse dialogar com as senhoras, tendo encetado o contacto com o homem que as acompanhava.
Coincidência curiosa aconteceu-me, há 10 anos atrás, quando me encontrava colocado em Almeirim e decidi fundar o Rotary Club local, em conjunto com outros quatro companheiros.
Combinámos uma reunião. Um dos meus amigos marcou mesa num conhecido restaurante local, onde eu nunca tinha ido.
Antes da hora do almoço, fui para o tribunal. Às 9h30m, dei início a um julgamento por agressão.
Considerei o arguido culpado. Mas não o mandei para a cadeia. Optei pela multa. Ora o valor diário desta baseia-se nas condições económicas do arguido.
Coloquei-lhe, portanto, algumas questões sobre a sua profissão. A resposta foi surpreendente: ele era o dono do restaurante onde tínhamos mesa marcada para o almoço.
Quando contei aos meus companheiros rotários o que se tinha passado, eles levaram-me a tomar a refeição noutro estabelecimento.
Em tom de mera brincadeira, disseram:
- Não queremos que morras envenenado.