domingo

COZINHEIRA DE MÃO-CHEIA



O envenenamento com a intenção de matar assume algumas características particulares.
Trata-se de homicídio qualificado, ou seja punido mais severamente, visto que o meio utilizado é insidioso. Quase sempre demonstra que houve premeditação. É uma modalidade adoptada sobretudo por mulheres delinquentes.
Depois, é relativamente fácil falhar o alvo.
Há dias, assisti a uma palestra proferida pela fabulosa artista plástica Ana Maria Botelho. A pintora contava que passou parte da sua juventude em França, logo após a libertação do jugo nazi.
Colaborou na Obra do Padre Courtois, para reinserção social de mulheres que haviam cumprido pena de prisão. A instituição funcionava no Castelo de La Ferté-Vidame, a 80 km de Paris.
A respectiva cozinheira era uma ex-reclusa. Tinha cumprido pena por matar 7 homens, por envenenamento. Não constituía curriculum famoso para quem preparava as refeições…
A criminosa tinha decidido livrar-se do marido. Preparou o café bem forte, como era habitual. Porém, juntou-lhe um potente pesticida.
Quando o esposo chegasse a casa, certamente servir-se-ia. Era garantido que não sobreviveria.
O resultado foi mais trágico do que pretendido pela assassina.
O homem tinha estado com 6 amigos, a beber umas cervejas, numa taberna local. Após, decidiram encaminhar-se todos para a casa do desgraçado, que tinha a morte já encomendada. Os 7 tomaram café e vieram a falecer.



DE QUEM É A CULPA ?

Isto faz-me lembrar um dramático acidente ocorrido aqui há uns bons anos, na casa de uns amigos meus. Levaram a cabo uma grandiosa festa e contrataram uma firma de catering para servir a refeição.
Num garrafão de água, ainda com o rótulo original, encontrava-se lixívia.
O empregado encarregue de preparar o café agarrou no recipiente e verteu o respectivo conteúdo para o reservatório da máquina. Estava perfeitamente convencido de que se tratava de água mineral.
O resultado final foi uma série de pessoas gravemente afectadas com a ingestão da poderosa solução misturada com o café e o açúcar.
No pólo oposto destas intoxicações voluntárias ou por incúria, encontra-se algo relativamente comum, pertencente ao domínio totalmente virtual.
É mais ou menos vulgar um indivíduo, que padeça de doença psiquiátrica, convencer-se de que o querem envenenar. A certeza é tão forte que recusa-se a comer qualquer tipo de alimentos, mesmo por ele confeccionados. Teme que, numa qualquer fase, os mesmos tenham sido contaminados.
Certa vez, deparei-me com um caso deste género. Um sujeito de boas famílias sofria de delírio de envenenamento. Não comia há cinco dias. Embora ele depositasse inteira confiança na irmã, recusava ceder às tentativas que ela fazia de o persuadir a alimentar-se.
Como juiz da comarca, vi-me forçado a determinar o seu internamento compulsivo. Rapidamente, curou-se e livrou-se do receio de tomar as refeições.