quinta-feira

ESPANHOLADA


Ia sendo o crime perfeito.
Em Espanha, ele comprou um jipe BMW X5 acidentado. Não havia recuperação possível. Com poucos meses, estava transformado em sucata. Custou-lhe apenas três mil euros.
O transporte para Portugal ficou em conta.
O segundo passo foi adquirir um veículo igual em segunda mão, também preto como o proveniente do país vizinho. Só que desta feita, o carro teria de se encontrar em bom estado e com matrícula nacional.
Foi fácil. Fechou o negócio por 65 mil euros, preço aceitável para aquele carro com pouco mais de um ano. Pagou a pronto, a um comerciante de Loures.
Antes de ir buscar a viatura, o vigarista celebrou o contrato de seguro, com cobertura de danos próprios, incluindo todos os riscos possíveis. Mesmo em caso de acidente provocado pelo condutor, a apólice garantia o pagamento da indemnização.
A concretização da golpada era simples.
Bastou retirar as chapas de matrícula portuguesas e colocá-las no jipe sinistrado, transaccionado em Madrid.
Depois, o homem participou o sinistro. Sem intervenção de outros veículos, despistara-se e dera cabo do BM comprado há tão pouco tempo, nos arredores da capital portuguesa.
Estava tudo planeado. O valor correspondia aos tais 65 mil euros. Porém, ele aceitaria ficar com os salvados, ou seja, o que restava do X5. Assim, receberia um pagamento de apenas 62 mil euros, em cheque entregue pela seguradora, mas conservaria o carro acidentado.


A RATOEIRA


É claro que não tinha havido despiste nenhum. O carro português estava bem guardado, na garagem.
Após descontar o cheque, o burlão simularia ter reparado a viatura nacional. Colocá-la-ia à venda. Sem dificuldade, recuperaria os 65 mil euros despendidos com a sua compra.
Para exibir ao perito, havia o jipe espanhol. Todo espatifado, mas com as chapas de matrícula portuguesas.
O especialista observou o BMW, captou imagens fotográficas e deslocou-se ao sítio onde hipoteticamente teria ocorrido o desastre. Depois, confrontou os dados recolhidos com a documentação existente na companhia de seguros.
A falcatrua foi detectada. Junto ao pára-brisas, no canto inferior esquerdo, é visível um número, que identifica o quadro ou chassis de cada veículo. O perito teve o cuidado de fotografar essa identificação. Confrontou-a com a que figurava no certificado de matrícula. Não coincidiam. Portanto, o tal jipe acidentado não era o que se encontrava coberto pela apólice de seguro.
O esquema só teria resultado com a conivência do averiguador. Funcionaria às mil maravilhas caso ele acedesse a tirar uma fotografia ao número do quadro na viatura portuguesa, juntando a imagem às fotos do jipe espanhol. Assim, tudo bateria certo.