O meu amigo Jorge anda aflito.
Para além do carro que utiliza mais frequentemente, possui igualmente um monovolume, daqueles bem espaçosos, com 7 lugares. O Sharan já completou uma década e percorreu muitos milhares de quilómetros. As idas à oficina começam a ser amiudadas e dispendiosas.
Da última vez que a viatura se avariou, ele entregou-a
a um mecânico a quem já tinha recorrido algumas vezes. O preço da mão-de-obra
não fica muito caro, o técnico vai utilizando peças usadas sempre que possível
e a conta atinge sempre um valor inferior ao que seria cobrado num
estabelecimento mais ortodoxo.
Os interesses do mecânico e do cliente conciliaram-se.
O profissional trabalha sozinho e tinha alguns serviços urgentes. O Jorge não
anda abonado e a carrinha não lhe é indispensável para o dia-a-dia. Ficou
combinado que a reparação ia sendo efetuada à medida das disponibilidades de
tempo do dono da oficina.
Mas a coisa terminou mal.
CLIENTES
A verdade é que o mecânico tem cada vez menos clientes.
Tornava-se difícil suportar o pagamento da renda mensal de um espaço que
alberga muitos automóveis. Além disso, nem tinha necessidade de uma área tão
grande.
Por isso, decidiu mudar-se para uma outra garagem de
dimensões bem mais reduzidas. Informou o senhorio e pediu-lhe o prazo de um mês
para remover algumas coisas que permaneceram no local primitivo.
O homem transferiu quase tudo. Na antiga oficina,
deixou umas latas de óleo, muitas peças antigas, pneus, vassouras, trapos e… a
Volkswagen Sharan do Jorge.
O tempo foi passando e esgotou-se o prazo acordado com
o proprietário. O antigo senhorio insistiu com o mecânico para que ele
retirasse tudo, pois, de outra forma, tornava-se inviável alugar o espaço a
outra pessoa. Mas os apelos caíram em saco roto. O mecânico foi-se desleixando
e nunca mais cuidou de proceder à remoção dos objetos e do monovolume.
PACIÊNCIA ESGOTADA
O dono do imóvel perdeu a paciência.
Entrou na garagem. Verificou que a chave do Sharan se
encontrava no seu interior. Apesar de avariado, o motor pegava e o veículo
circulava, com o painel de bordo a apontar um aquecimento excessivo.
Nada que constituísse obstáculo a uma solução
definitiva. O senhorio pegou em tudo o que se encontrava na garagem e enfiou
dentro do monovolume, ocupando toda a bagageira e o habitáculo, sem se
preocupar com os assentos, revestidos a tecido.
Só deixou espaço livre para o condutor.
Já de noite, acionou a ignição. Conduziu a carrinha até
à nova oficina do seu antigo arrendatário Estacionou-a e depositou a chave da
viatura na caixa do correio do sujeito.
Na manhã seguinte, o mecânico ligou ao Jorge. Este nem
sabia onde se localizava a garagem onde o indivíduo tinha passado a exercer a
sua atividade. Mas foi lá dar, sem saber ao que ia, pois o outro não lhe queria
dar a notícia pelo telefone.
A surpresa foi mais do que desagradável. A Sharan
encontrava-se repleta de componentes sujíssimos. Os estofos estavam imundos,
encharcados em óleo. Sobre os tapetes, havia uma tal sorte de objetos
conspurcados, incluindo jantes e pneus. O interior das portas ficou nojento e
até o teto estava manchado.
A LEI
Eu expliquei, ao meu amigo, a abordagem legal do
problema.
O Jorge celebrou um contrato com o mecânico. Enquanto a
carrinha está à guarda deste, cabe-lhe toda a responsabilidade sobre a mesma.
Portanto, o dono da oficina terá de indemnizá-lo ou devolver-lhe a Sharan no
estado em que ela se encontrava quando se procedeu à entrega para reparação.
É claro que o antigo senhorio não foi inteiramente
correto. Mas isso são contas que o mecânico terá de acertar com ele.
Eventualmente, poderá pedir uma compensação pelas despesas que teve com o
Jorge.