São raros os problemas de segurança nos tribunais.
É controverso determinar se deveria haver mais guardas
de serviço.
Até 2002, a maior parte dos tribunais dispunham de,
pelo menos, um vigilante de serviço permanente, 24 horas por dia. Nas comarcas
de menor dimensão, a segurança era mantida das 8 da manhã às 20h00m. O serviço
era prestado por uma pequena empresa pertencente a um alto funcionário do
Ministério da Justiça. Após conseguir o chorudo contrato com os tribunais,
vendeu-a à Prossegur.
Foi um bom negócio para ele, mas não terá sido
particularmente vantajoso para a adquirente.
Logo depois, Celeste Cardona tomou posse como ministra
da justiça. Decidiu reduzir os custos com estes contratos. Muitos tribunais
deixaram, pura e simplesmente, de dispor de vigilância. Naqueles onde havia
segurança permanente, o guarda passou a terminar o serviço às oito da noite.
CRIMINOSOS NO TRIBUNAL
É claro que isso levantou alguns problemas. No tribunal
de Setúbal, entraram lá uns criminosos. Não estiveram naquele local para
responder perante o juiz. Foram de noite e levaram a caixa multibanco,
recheada de notas.
Esse tipo de criminalidade terminou de forma bem
simplista. Deixou de haver multibancos nos tribunais. Quando quiserem acabar
com os carteiristas nos autocarros, é só proibir os passageiros de levar
dinheiro, assim como não é permitido viajar com gatos de estimação.
A SOLIDÃO DA NOITE
Nos tempos em que os tribunais tinham o seu vigilante
durante toda a noite, com certeza seria algo entediante para o responsável ali
permanecer, sozinho numas amplas instalações.
Num tribunal da grande Lisboa, sucederam-se dois
vigilantes, que arranjaram passatempos pouco legítimos. Um pior do que o outro.
O primeiro segurança acedia ao piso superior e sentava-se
no gabinete de um dos juízes. Telefonava para uma linha erótica e ali
permanecia à conversa com a operadora, não se preocupando com o elevado
tarifário. É claro que o emprego durou pouco tempo. Após a primeira fatura
detalhada que revelou aquelas chamadas noturnas, o homem foi dispensado.
Depois, veio um outro vigilante que se dedicava a observar
os objetos apreendidos. Gorros, facas de ponta-e-mola, soqueiras, auto-rádios,
luvas, tacos de baseball integravam a parafrenália de coisas retiradas pela
polícia aos delinquentes.
Além disso, naquele tribunal, havia a péssima prática
de armazenar as armas de fogo apreendidas, embora sem a respetiva munição, que
era guardada à parte. Em todo o caso, revólveres, pistolas e espingardas não
eram remetidas para uma esquadra policial. Ficavam conservadas em vulgares
armários onde se deveriam colocar apenas dossiers.
O novo vigilante decidiu fazer um acordo com um
serralheiro que se dedicava ao comércio clandestino de armas. Todas as noites,
o segurança levava uma pistola ou um revólver. Entregava-o ao recetador. Deste
modo, a sua maçadora tarefa de zelar pelo tribunal tornava-se mais rentável.