quinta-feira

PARIS É UMA FESTA




A propósito da infidelidade conjugal de François Hollande, o jornal "Sol" publicou um artigo no qual informa: "Mitterrand também terá tido amantes".
Não é grande notícia. Nem se justifica a prudência no emprego da forma verbal.
Sabe-se o que aconteceu.
Afetado por doença terminal, o antigo presidente da república francesa, falecido em 1996, fez questão de que fossem divulgadas as suas aventuras sexuais ocorridas fora do matrimónio.
Atualmente, é sabido que o próprio chefe de estado manifestou vontade de que os meios de comunicação social publicassem notícias respeitantes a Mazarine Pingeot. Assim, foi-lhe dada a chance de reconhecer a paternidade desta sua filha adulterina, sem necessidade de justificar detalhadamente por que não o fizera antes. Todos respeitavam o sentimento de que ele pretendia não apoquentar a sua mulher legítima.
Fundamentalmente, estes assuntos ficaram esclarecidos em sua vida. Não foi a História que se encarregou de dar a conhecer tais pormenores, em ajuste de contas com o socialista.


RAZÕES

Em Portugal, idêntica questão se coloca relativamente a Mário Soares.
Por força da perseguição pelo regime ditatorial, o corajoso oposicionista viu-se forçado a buscar exílio na capital francesa. Sua mulher permaneceu em Portugal, ganhando a vida como diretora de estabelecimento de ensino e desempenhando o seu papel de mãe de dois filhos, violentamente afastados do pai.
Salgado Zenha era amigo do casal. Chegou-lhes a emprestar dinheiro, em momento de necessidade. Maria Barroso recorda que o advogado bem a preveniu: "o Chico Zenha disse-me: 'Venda o colégio e vá para o pé do seu marido'. Lá tinha as suas razões".


INOCENTE

Tal como Mitterrand e Hollande, o fundador do partido socialista português também sucumbiu aos encantos das gaulesas.
António Coimbra Martins era amigo de Maria Barroso, desde a adolescência de ambos. Ele dirigia a biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian na cidade-luz. O intelectual deliciava-se com o arroz de favas que a atriz confecionava quando lá ia.
Tendo cultivado também grande amizade com o futuro presidente da república, o diplomata reconhece que os dois homens organizavam escapadas amorosas.
Porém, Coimbra Martins também explica que, numa situação concreta, foi injustamente acusado pela distinta atriz que viria a ser primeira-dama. Segundo ele, a esposa do secretário-geral socialista estava convencida de que o amigo havia proporcionado uma determinada ligação.
O filólogo garante: "não que não tenha devaneado com Mário Soares e me tenha divertido com ele, mas nesse caso eu estava completamente inocente".


O ASSESSOR

Já após a revolução de 1974, ocupando a pasta dos Negócios Estrangeiros, o líder socialista foi abordado por uma fotógrafa francesa com quem mantivera um relacionamento.
O caso complicou-se quando um assessor decidiu, por iniciativa própria, sem consultar ninguém, entregar toda a correspondência pessoal na casa do ministro. Entre as muitas cartas, havia as missivas que a parisiense tinha o cuidado de remeter para o domicílio profissional, em vez de as endereçar para a Rua Dr. João Soares.
Foi assim que a responsável pela prestigiada escola se deparou com aqueles sobrescritos. Não foi internada no hospital, como a mulher de François Hollande. Mas esteve lá perto.
"Ia morrendo", lembra Alfredo Barroso, seu sobrinho.
A única biografia, do antigo chefe de estado, que aborda estas matérias delicadas é a que foi redigida por Joaquim Vieira.
Efetivamente, são aspetos de melindre. Envolvem outras pessoas, para além do antigo primeiro-ministro, que assinou a adesão à União Europeia. Compreende-se que a disponibilidade para se referir ao tema dependa de terceiros.
De um ponto de vista estritamente pessoal, a Mário Soares seria muito mais benéfico que o tópico fosse esclarecido em sua vida.