segunda-feira

AS CARTAS DE RENATO SEABRA




É muitíssimo enriquecedora a leitura da obra "O Caso Renato Seabra: Por detrás das cortinas". Foi escrito por Marta Dhanis, que trocou correspondência com o assassino de Carlos Castro, a cumprir pena de prisão em Nova Iorque.
Contrariamente ao que sugerem algumas referências na imprensa, o livro não se baseia nas cartas redigidas pelo recluso. A alusão às missivas ocupa apenas duas páginas.
Fundamentalmente, trata-se de um importante trabalho levado a cabo por uma jornalista, que acompanhou o julgamento do modelo português.


ESCOLHER O ADVOGADO

Um dos aspetos mais interessantes diz respeito à escolha do advogado, que veio a defender o arguido, em tribunal. Assim como às opções concernentes à estratégia processual.
É claro que a decisão final caberia sempre ao jovem de Cantanhede.
Mas foi determinante a atuação de seus pais, separados desde que ele tinha cinco anos de idade. Joaquim Seabra começou por reunir-se com Tony Castro, causídico de ascendência portuguesa. O jurista aconselhou uma tentativa de negociação com a procuradora, evitando a realização de um julgamento. Com sorte, o homicida expiaria uma pena de 12 ou 13 anos de cadeia.
Odília Pereirinha, mãe do acusado, não se conformava com uma tal situação. Desejava que o caso fosse julgado por um júri de doze cidadãos comuns, apreciando uma eventual insanidade mental. Deste modo, talvez conseguisse a absolvição. A ser fixada uma sanção, tal caberia ao juiz que presidiria à audiência.
Renato aceitou a orientação da progenitora, que optou por David Touger como advogado de defesa. Com 30 anos de exercício profissional, não era particularmente experiente. Sem ter participado em muitos julgamentos importantes, nunca tivera a oportunidade de se deparar com uma situação em que fosse invocada anomalia psíquica.
Durante as várias sessões, Dulce Tanelli, conterrânea da enfermeira, prestou serviço como intérprete, poupando à defesa as despesas com um tradutor contratado. A portuguesa, residente em Nova Jérsia, deixou de trabalhar durante o tempo que durou o julgamento.
Odília ficou alojada graciosamente, num hotel de Manhattan, pertencente a uma compatriota, Judite Vida Pedro.
Com a condenação a um mínimo de 25 anos de prisão, Odília afastou-se quer do advogado quer destas suas amigas, que ficaram magoadas perante tal atitude.